Todo ano é sempre a mesma coisa. Chega o Dia da Consciência Negra e logo pululam nas redes sociais críticas ou evocações cheias de preconceitos como “Dia da Consciência Branca” ou ainda “Dia da Consciência Humana”. Entretanto, vale dizer que o 20 de novembro veio para ficar. A Consciência Negra é um movimento político e ideológico de celebração, resistência e reivindicação. A data não vai deixar de existir.
O 20 de novembro, criado pelo poeta gaúcho Oliveira Silveira, ainda causa desconforto em quem não acredita que o racismo persiste e mata. Às vezes, dizer o óbvio é mais importante que uma novidade. Por isso, direi o que para nós, negros, já é uma obviedade: não chegaremos a uma “consciência humana” sem antes chegarmos a uma consciência racial, a uma consciência de classe e a uma consciência do privilégio branco.
Não há como negar que, nos últimos anos, avançamos em algumas pautas raciais. Tenho frequentemente ouvido pessoas brancas dizerem que precisam ouvir e aprender com pessoas negras. O que é um bom sinal. Sim, parece óbvio, mas escutar e aprender com quem passa por situações de racismo é o mínimo. Mas, veja, ouvir e aprender não é suficiente.
É preciso acrescentar aí um outro verbo: agir.
O argumento de que “não vou me meter nisso porque não é o meu lugar de fala” definitivamente não contribui para o debate. Pois tomar consciência do seu privilégio é um passo importante, mas agir a partir dessa consciência é transformador.
A coluna desta semana é de celebração, mas é também uma coluna de convocação social e afetiva. Social porque combater o racismo não é generosidade, é um ato cívico. Se queremos uma sociedade melhor, lutar a favor da igualdade racial é uma questão de cidadania, não de bondade. E é afetiva porque, mesmo que haja leis que punam pessoas racistas, uma lei por si só não dá conta. Uma lei pode privar as pessoas de liberdade, pode provocar perdas econômicas, mas a lei não passa pelo coração das pessoas.
Se quisermos de fato mudar, precisamos ser afetados pela dor do outro.