Quando Michel Temer chegou à presidência após um golpe parlamentar, em 2016, uma das primeiras ações foi a de fechar o Ministério da Cultura. No entanto, a ação foi revertida graças ao movimento OcupaMinc. No entanto, com a eleição de Bolsonaro, o ministério foi extinto e virou uma secretaria agregada ao Ministério da Cidadania, até que por fim acabou numa secretaria ligada ao Ministério do Turismo.
De lá pra cá, a pasta foi ocupada por Roberto Alvim, que atacou a classe artística e foi exonerado após fazer um discurso com referências nazistas, depois foi a vez da atriz Regina Duarte, que fez uma passagem relâmpago pela secretaria, sem sequer conseguir montar uma equipe de trabalho, até chegarmos ao ator Mario Frias, que vem atacando o setor cultural, alinhando-se a uma pauta ideológica ultradireitista.
Todos que assumiram a secretaria pretendiam pôr em pauta um único projeto: destruir a arte. Pois sabem que a arte não se submete a regimes totalitários. A arte existe para incomodar. Para desestabilizar o mundo. Quem procura conforto na arte não está à procura da arte em si, mas em busca de uma confirmação do próprio mundo com suas injustiças e violências. A arte incomoda porque traz à luz os tabus que a sociedade esconde: a nudez, a morte, a loucura, o desejo, e que recalcamos para continuarmos numa vida vazia e sem sobressaltos existenciais.
Penso em Nietzsche quando escreve sobre as forças ativas e reativas do mundo. O filósofo alemão reflete, em a Genealogia da Moral, sobre como essas forças reativas, ou seja, forças essas ligadas à castração dos desejos, ao excesso de regras, às burocracias, dominam a sociedade, ao passo que as forças ativas, oriundas de um devir artístico, altamente criativo e transgressor, são atacadas quando emergem e apontam para um mundo cheio de contradições. Nietzsche esclarece que todos nós carregamos tais forças, no entanto, a força reacionária parece reger o mundo. A arte incomoda porque nos liberta. E a liberdade é tudo que regimes autoritários, como é o caso do governo Bolsonaro, não querem.