O governo Lula nunca teve plano de governo. Considera que isso foi um grande sucesso no seu primeiro — e continua sem plano nenhum para o segundo. Em vez de programa, Lula tem um sistema operacional. Trata-se do conjunto de condutas que se destinam a usar a máquina pública e o Tesouro para atender às necessidades e aos interesses do presidente da República, da presidenta adjunta e do cardume que veio com eles para o Planalto. Esse sistema dispensa o governo de qualquer responsabilidade, da necessidade de apresentar resultados ou de resolver algum tipo de problema. A única coisa que interessa é ficar lá, durante o tempo que der, e aproveitar ao máximo as oportunidades que o governo oferece a quem está lá. E depois? Fica para depois.
Lula e STF formaram uma sociedade antes mesmo de ele chegar à Presidência
Ao começar o segundo ano da sua jornada, o desinteresse de Lula pelo trabalho de governar continua o mesmo — só que mais radical e com menos paciência. Abriu as operações com uma declaração de hostilidade ao Congresso: está tentando anular, através de medida provisória, uma lei de alívio fiscal para as empresas que acaba se ser aprovada pelo Legislativo. Decidiu, ao mesmo tempo, que não vai liberar as emendas parlamentares nas datas que os deputados e senadores estão querendo.
Os analistas políticos decidiram que o governo se fortaleceu — deixou o Congresso acuado e os políticos agora vão ser obrigados a ceder. Chega de “negociação”, nome que se deu no ano passado à compra de votos no Congresso em troca de “emendas” pagas com dinheiro do orçamento federal. Neste ano, o governo Lula vai resolver o seu problema fundamental no Congresso — o fato, insolúvel, de que é minoria — juntando-se aberta e oficialmente ao STF para anular as votações em que é derrotado. Não é novidade. Lula e STF formaram uma sociedade antes mesmo de ele chegar à Presidência; aliás, só chegou lá porque foi colocado no cargo pelo próprio STF e pelo TSE, e pela sucessão de decisões judiciais exóticas que o tiraram da cadeia, anularam as ações contra ele e lhe forneceram uma “ficha limpa”. Governam o Brasil, desde então, como um consórcio.
Em 2024, o consórcio está mais ambicioso. Lula e o STF estão transformando o Brasil num país governado por dois poderes — a junta Executivo-Judiciário que funciona como um poder só, e o Poder Legislativo, que tem de se subordinar. Não fecham o Congresso porque não têm coragem e nem força para isso. Mas fazem tudo para governar sem a sua presença. Por que não? Já governam sem a necessidade de povo, sem as leis que não lhes interessam e sem obrigação nenhuma perante os governados. O plano é continuar assim.