A ação emergencial das Forças Armadas brasileiras e das polícias em meio às enchentes que atormentam o Rio Grande do Sul é maior do que qualquer missão de paz organizada pelas Nações Unidas. O socorro a flagelados pelas cheias e a recuperação de vias mobilizaram até agora 32 mil militares e policiais, federais e estaduais, amalgamados na Operação Taquari 2 — assim denominada porque as primeiras enxurradas aconteceram no Rio Taquari, tanto em setembro de 2023 quanto em maio.
As ações contra as cheias usam um efetivo inclusive superior à maior das intervenções de tropas da ONU em todos os tempos, que acontece no Congo. Essa missão africana envolve 17,8 mil militares e policiais, atua há 15 anos, termina neste ano e é comandada por um oficial do Exército brasileiro.
Os 32 mil servidores mobilizados para atuar nas cheias de maio representam quase 30 vezes o efetivo que atuou nas enchentes de setembro, o que dá uma ideia da catástrofe que se abateu sobre os gaúchos nesse primeiro semestre de 2024. A coordenação é das Forças Armadas, mas esse contingente que fez a linha de frente nos resgates de vítimas das cheias é composto por outros funcionários federais (civis), policiais de todas as esferas e também guardas municipais, entre outros.
Seja como for, os 32 mil engajados na Operação Taquari 2 representam mais de quatro vezes o efetivo da maior ação liderada pelo Brasil em forças de paz, a Missão das Nações Unidas para o Haiti (Minustah, de 2004 a 2017), que no seu auge contou com 7,8 mil militares e policiais (a maioria, brasileiros). Em Angola estiveram cerca de 4 mil militares brasileiros, numa missão durante a guerra civil naquele país, entre 1995 e 1997. Isso dá uma ideia do gigantismo do combate às enchentes no Rio Grande do Sul.
A rigor, o contingente deslocado para atuar nas cheias é maior até do que o da Força Expedicionária Brasileira (FEB) que atuou na Segunda Guerra Mundial, com 25 mil pracinhas. Mas é preciso ressalvar que a população brasileira era cinco vezes menor do que a atual — ou seja, proporcionalmente era uma força-tarefa formidável a que atuou no conflito europeu.
O efetivo militar-policial nas atuais enchentes do Rio Grande do Sul se deslocou em 3,2 mil viaturas, 80 aeronaves (majoritariamente, helicópteros) e 620 embarcações, que inclui 13 navios (repare no tamanho da frota!). A maior parte desse contingente continua atuando. Em números desta terça-feira (4), são 27 mil pessoas ainda engajadas na Operação Taquari II.
Os militares montaram 12 hospitais de campanha e — preste atenção nesses números — resgataram 72 mil pessoas e 10,5 mil animais (com ajuda, óbvio, dos policiais).
É por esses motivos que o chefe do Comando Militar do Sul (CMS) e coordenador da Operação Taquari II, general Hertz Pires do Nascimento, anda para cima e para baixo com vídeos sobre as ações contra as enchentes. Exibe os resultados a quem se interessar. Motivos para orgulho existem. Mostram que as Forças Armadas agem tanto no preparo para a guerra como, de suma importância, nas emergências climáticas que seguidamente sacodem o Brasil.