Com virtual Estado de Sítio respaldado pelo Congresso e amplo apoio popular, o presidente equatoriano Daniel Noboa botou as tropas nas ruas, em reação aos ataques maciços efetuados pelos cartéis de drogas nos últimos dias. Como o leitor sabe, facções equatorianas, rivais entre si, se uniram numa onda de sequestros de civis, assassinato de policiais, rebeliões prisionais e até tomaram uma televisão estatal, fazendo jornalistas de reféns. Tudo isso em três dias. Querem que o governo do Equador recue da ideia de criar navios-prisões para isolar prisioneiros a 80 milhas da costa (cerca de 150 quilômetros) e uma superpenitenciária de segurança máxima, para 5 mil detentos.
Amparadas em decretos presidenciais que permitem buscas residenciais sem ordem judicial e também proíbem circulação de pessoas nas ruas durante a madrugada, as Forças Armadas e a Polícia Nacional equatorianas reagiram com vigor. Em pouco mais de 24 horas efetuaram 330 prisões de suspeitos de vínculo ao crime organizado (chamados de "terroristas" pelo governo, que deve inclusive enquadrá-los por crimes de terrorismo) e libertaram 41 reféns. Entre os que foram resgatados pelos policiais está o brasileiro Thiago Allan Freitas, 38 anos, dono de uma churrascaria em Guayaquil, a maior cidade equatoriana, com 2,7 milhões de habitantes - e também a mais atingida pela onda de violência. É lá que o governo tem planos de construir uma Supermax, apelido dado nos Estados Unidos para prisões gigantescas, para milhares de detentos cumprirem pena em regime de segurança máxima (isolados, praticamente sem visitas e sem comunicação de espécie alguma).
Polícia e Forças Armadas equatorianas ainda mataram cinco supostos bandidos, prenderam 28 foragidos da Justiça, encontraram 195 veículos roubados pelos cartéis, apreenderam 61 armas e nove embarcações. Entre os 330 presos estão 13 jovens que invadiram a TV estatal TC e mantiveram reféns jornalistas e operadores, em cenas dramáticas transmitidas ao vivo.
Entre os reféns libertados estão três policiais.
Nem tudo são boas notícias, porém. A situação dos 139 guardas penitenciários feitos reféns por um dos cartéis, Los Lobos, é desconhecida. Numa penitenciária do departamento de Esmeraldas foram ouvidos tiros durante toda a noite. O governo silencia a respeito. Os próprios quadrilheiros divulgaram diversos vídeos de agentes penais sendo executados a sangue-frio.
Mas o presidente Daniel Noboa já declarou que não vai ceder. O mais provável é que aconteça uma invasão das penitenciárias, em ação conjunta de militares e policiais.