O leitor conhece a trabalheira que um motorista tem para conseguir atuar num táxi em Porto Alegre? É jogo duro. O aspirante a taxista precisa de requerimento assinado pelo permissionário e pelo condutor (reconhecido em cartório), pagar taxa de emissão de ICTP (Identidade de Condutor do Transporte Público), necessita ter Alvará de Folha Corrida e Negativa Criminal Estadual e Federal, comprovante de aprovação no curso de formação (de 50 horas) exigido pela legislação municipal, comprovante de residência no Rio Grande do Sul, comprovantes de inscrição no INSS, exame toxicológico a cada 12 meses e, em alguns casos, curso de ponto fixo e turismo (16 horas). Pois um grupo de condutores dribla essas exigências, mediante um simples estratagema: a negociação direta de viagens com o passageiro. Sem burocracia, sem fiscalização e sem permissão, como mostra reportagem dos colegas Alberi Neto e Camila Hermes, do Grupo de Investigação da RBS (GDI), veiculada em GZH nesta quarta-feira (27).
A farra dos aplicativos clandestinos ocorre ao lado da rodoviária, um dos pontos de maior concentração de fiscais de trânsito na Capital. Os viajantes interessados são aliciados pelos motoristas aos gritos, sem disfarces. Alguns motoristas dirigem de chinelo (proibido por lei). O passageiro não sabe quem é o condutor, seus antecedentes, se sua habilitação está em dia. O cúmulo da informalidade. E aceita isso, porque paga barato pela viagem.
Claro que as autoridades têm noção desse tipo de empreendimento clandestino, tanto que autuou 43 veículos de transporte clandestino entre janeiro e novembro deste ano. Só que, convenhamos...basta olhar as fotos da colega Camila Hermes para verificar como dezenas de carros se reúnem no ponto mais popular de caronas clandestinas pagas, num único dia. Está faltando fiscalização, isso fica claro.
Óbvio que fiscalizar é difícil, porque os usuários do carro clandestino são orientados pelo motorista a dizer que pegaram carona. A saída, talvez, seja flagrar negociações envolvendo motorista e viajante, como fez o GDI. E aumentar as blitze para verificar se os veículos cumprem todas as exigências legais.