
Em 25 de abril, há cerca de duas semanas, brasileiros foram homenageados na cidade italiana de Montese. A data comemora o Dia da Libertação da Itália (com a morte do ditador Benito Mussolini) e os honrados pela cerimônia são a derradeira geração de "pracinhas", como são chamados os integrantes da Força Expedicionária Brasileira (FEB) que atuou na fase final do maior conflito da história, a II Guerra Mundial.
Os pracinhas estão todos hoje com cem anos ou mais, como mostra reportagem do colega Mathias Boni publicada nesta quinta-feira (8). Até por isso, muitos veteranos foram representados em Montese por familiares.
Montese é uma das cidades italianas "libertadas" pelos brasileiros naquele inverno rigoroso. Após a queda de Mussolini, o nazifascismo durou poucos dias no poder. Em 8 de maio - há exatos 80 anos - a Alemanha se rendeu aos Aliados, pondo fim ao sangrento conflito na Europa. A grande guerra prosseguiu no Extremo Oriente por alguns meses, até que o Japão também se rendeu, em agosto de 1945.
A FEB, composta por cerca de 25 mil soldados, está longe de ser o mais numeroso contingente aliado e tampouco foi o mais importante, estrategicamente. Para dar uma ideia, 16 milhões de norte-americanos serviram às Forças Armadas naquela guerra. Mas os brasileiros tiveram um papel crucial na campanha da Itália, especialmente na tomada de Monte Castello, em 21 de fevereiro de 1945, após quatro tentativas frustradas.
Além de Monte Castelo, a FEB libertou localidades como Montese, Massarosa, Camaiore, Fornovo di Taro e Maranelo (terra da Ferrari), ajudando a tomar Bolonha e Turim e capturando cerca de 15 mil soldados inimigos.
Foi sobretudo com a tomada de Monte Castelo, uma fortaleza gelada em meio a montanhas, que se abriu caminho para o avanço dos Aliados rumo ao norte, rompendo a Linha Gótica, uma barreira defensiva alemã. E possibilitando a derrota final de Mussolini, analisa o general gaúcho Sérgio Etchegoyen, ex-ministro e um dos que compareceu à cerimônia do Dia da Vitória na Itália este ano. Ele é de uma tradicional família de generais.
— Os italianos costumam reconhecer mais o papel da FEB do que os próprios brasileiros. Talvez porque tenham vivido na pele a experiência daquela libertação — pondera Etchegoyen.
É isso. O Brasil raramente teve território invadido. Uma das exceções foi a invasão patrocinada pelos paraguaios de Solano López em 1865, logo expulsos pelas tropas tupiniquins. Ainda bem. Mas não custa nada honrar a memória dos pracinhas que deram sangue e suor em outro continente para combater uma tirania.