A Polícia Federal intimou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e várias pessoas do seu círculo íntimo a prestarem depoimentos simultâneos sobre o caso de revenda de joias recebidas como mimo diplomático quando ele estava no governo. Os interrogatórios dele, da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e de outros seis amigos e assessores será dia 31 de agosto.
A estratégia não é rara. Na PF, já acompanhei casos em que vários presos são ouvidos em salas separadas, pelo mesmo delegado, que passa o dia num périplo entre andares diversos. A tática é usada para evitar que os suspeitos combinem versões sobre o fato investigado. Inclusive em casos de colarinho branco, como lavagem de dinheiro, uma das suspeitas envolvendo a venda dos valiosos brindes recebidos por Bolsonaro.
Já na Polícia Civil não é tão comum, até pela multiplicidade de tipos de investigações. As chamadas "oitivas simultâneas" são usadas em dia de prisões em flagrantes, quando há fartura de policiais trabalhando no mesmo caso. Já no cotidiano, a estratégia mais usada é determinar incomunicabilidade entre os investigados. Eles são ouvidos no mesmo dia, pelo mesmo escrivão ou delegado, mas não de forma simultânea.
Cada equipe se responsabiliza por um caso e os mesmos policiais produzem todo o tipo de prova, técnica, documental e oral. Então muitas vezes a mesma equipe não consegue ouvir todos ao mesmo tempo. Mas o delegado participa de todas as oitivas.
— É melhor quando um só policial ou delegado ouve todos os suspeitos. Conhecendo todos os depoimentos, ele explora melhor o interrogatório e consegue aprofundar a investigação — explica a delegada Vanessa Pitrez, chefe do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), da Polícia Civil gaúcha.
Vanessa salienta que outra técnica utilizada é a acareação. Os suspeitos são colocados todos juntos numa mesma sala. São ouvidos ao mesmo tempo e há um confronto das versões, muitas das quais são conflitantes.
O que não é comum, definitivamente, é que os depoimentos simultâneos ou acareações sejam feitas com ex-presidentes ou autoridades do primeiro escalão governamental. Mas para tudo há uma primeira vez.