A história se repete, a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa, dizia Karl Marx. Resta saber qual dessas repetições aconteceu neste domingo (8) em Brasília. Milhares de simpatizantes do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), inconformados com a derrota dele na tentativa de reeleição, invadiram as sedes dos três poderes governamentais. Subiram a rampa do Congresso, derrubaram veículos no lago artificial, quebraram vidraças e também entraram na garagem do Palácio do Planalto, onde normalmente despacha o novo presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Só que ele está em viagem, para decepção dos manifestantes.
Fica claro que o Brasil vivencia neste momento a repetição da invasão do Capitólio, o prédio do Congresso norte-americano, ocorrida há exatos dois anos. Nos EUA, os descontentes que vandalizaram a sede do Legislativo eram simpatizantes de outro presidente que não conseguiu se reeleger, Donald Trum (Partido Republicano), um dos irmãos de causa de Bolsonaro no nicho da ultradireita mundial.
A impressão de quem assiste é de que ocorreu uma pane no sistema de segurança. Ministério da Justiça, Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e Ministério da Defesa não conseguiram proteger as sedes das maiores instituições do país. Por último, vandalizaram o prédio do Supremo Tribunal Federal (STF).
O curioso nisso tudo é que o próprio ministro da Justiça, Flávio Dino (recém-empossado por Lula) avisou que chamaria a Força Nacional para impedir o avanço dos vândalos descontentes com as eleições. Onde estão os PMs que compõe essa tropa de elite? Foi possível ver PMs comuns, do Distrito Federal, tentando impedir a invasão do Congresso e sendo levados de roldão.
Como milhares de manifestantes conseguiram viajar, desembarcar, se aglutinar e marchar até o Congresso e o Planalto? A Força Nacional chegou a fazer um bloqueio com grades na Praça dos Três Poderes, mas os baderneiros derrubaram tudo pela frente.
Foram usadas bombas de gás e sprays antidistúrbio, mas nada parou a turba.
Faltaram policiais para tanto. Agora os policiais legislativos (que atuam no Congresso) estão encurralados no prédio. Uma repetição ipsis literis do que aconteceu no Capitólio norte-americano, em 2021. Agora é torcer para que não ocorra algo semelhante em termos de derramamento de sangue. Nos EUA, na invasão do Legislativo, morreram cinco pessoas e 140 agentes da lei ficaram feridos, além de um número indefinido de manifestantes. Tomara que a história se repita no Brasil como farsa e não como tragédia. É preciso também que, como nos Estados Unidos, líderes dos atos criminosos sejam responsabilizados.