Do ponto de vista da propaganda, os russos começam a virar o jogo, no viés psicológico, na invasão que promovem na Ucrânia. De uns dias para cá proliferam na internet vídeos do avanço arrasador das tropas da Rússia na região leste ucraniana, hoje majoritariamente em poder dos russos e seus aliados.
Nesta quarta-feira (6), por exemplo, o site OSINT Brazil (sobre assuntos militares) tuitou vídeos de militares chechenos (aliados dos russos), barbudos e em trajes de combate, ocupando a cidade ucraniana de Lysychansk, na região do Donbass. Entre eles está o Presidente do Parlamento da República Chechena, Magomed Daudov, também uniformizado, que faz uma declaração bombástica:
- Com a graça de Alá, se o Vladimir Putin não nos impedir, tomaremos Odessa, Kherson...E iremos até Berlim. Nós vamos vencer, não há dúvida disso. Deus salve Alé e seu profeta!
Um discurso com endereço certo, já que a Alemanha é aliada incondicional da Ucrânia nesta guerra.
Os muçulmanos chechenos estão na linha de frente da ocupação russa na Ucrânia. Dias atrás um outro militar da Chechênia, general, posou para fotos com uma bandeira do Brasil capturada no front. Ela estava decorada com assinaturas de voluntários brasileiros que atuavam do lado ucraniano nesta guerra. Alguns deles, como o gaúcho André Hack Bahi, morreram na luta.
-Pegamos essa bandeira de uma legião estrangeira que destruímos. Alguns foram eliminados, outros, fugiram. Muitos ficaram em pânico logo nos primeiros dias. Ainda sobraram alguns, mas eles não estão inspirados em continuar lutando - anunciou o militar checheno.
Um outro vídeo do fim de semana diz muito sobre a questão ideológica presente nessa guerra. Como se sabe, o presidente russo alardeia que os russos lutam contra um regime ucraniano simpático ao fascismo e que conta com neonazistas. Até por isso, Vladimir Putin conta com apoio de comunistas russos. Pois no domingo os rebeldes pró-Rússia da região do Donbass tomaram a cidade de Liman, em meio a combates intensos. Filmaram seu avanço pelos prédios e, triunfantes, hastearam a bandeira da antiga União Soviética (vermelha, com foice e martelo) sobre os prédios oficiais, antes ocupados pelo governo ucraniano. A imagem correu mundo e reforça o viés de luta antiocidental imprimido por Putin na sua retórica.
A verdade é que, após dois meses de surpreendente resistência ucraniana, os russos começam a ganhar terreno a cada dia e consolidaram o domínio sobre mais de 20% do território da Ucrânia, no leste (a parte que faz fronteira com a Rússia). Caso quisesse, Putin poderia determinar a interrupção do avanço. Já teria poder sobre a região mais rica em minérios do território ucraniano e também a que lhe é mais simpática. Mas não há sinais de que o mandatário russo queira parar por aí, como cogitou o seu aliado checheno.