A 16ª edição do Anuário da Segurança Pública, pesquisa do Fórum Brasileiro da Segurança Pública (FBSP), confirma uma tendência que tem a ver com raízes históricas e hábitos arraigados entre os gaúchos. O Rio Grande do Sul é o Estado com maior número de cidadãos com armas registradas (legais), com 109 mil apontamentos ativos no ano passado, como antecipou o colega Caio Cigana na edição de hoje de Zero Hora. Isso representa crescimento de 27% em relação a 2020. Seguem-se, no ranking de pessoas mais armadas, os mineiros, catarinenses, paranaenses e paulistas. Aí falamos só de pessoas físicas, não de servidores públicos ou guardas privados a serviços de empresas.
Isso em se tratando de registros por parte da Polícia Federal. O Exército possui uma contabilidade própria para os que se credenciam como Caçadores, Atiradores e Colecionadores de armas (CACs). Nesse quesito, os gaúchos estão em segundo lugar, com 144 mil registros ativos. Perdem para os paulistas, com 267 mil armas de CACs.
O crescimento coincide com a flexibilização de regras para aquisição de armas e munições durante o governo Jair Bolsonaro.
Muitas organizações que estudam a violência, entre elas o próprio autor da pesquisa (Fórum de Segurança Pública), consideram preocupante esse salto na venda de armas. Apostam que, a médio prazo, a disponibilidade delas fará explodir o número de homicídios de origem passional (feminicídios ou brigas de vizinhos, sobretudo). Salientam que a presença da arma em casa faz com que uma simples discussão, muitas vezes, seja resolvida à bala. A redução vivenciada agora é resultado de um conjunto de fatores, entre eles melhores políticas de prevenção à violência, mais integração policial e repressão direta ao crime organizado.
Já os que pregam o uso de armas como instrumento de defesa celebram as estatísticas. Eles pregam o lema romano: Si vis pacem, para bellum (traduzido do latim para o português, “Se queres paz, prepara-te para a guerra”). Daí, inclusive, surgiu o nome de um famoso calibre, o Parabellum, também um apelido genérico para pistola.
Os adeptos do uso de armas também comemoram outra estatística: o número de homicídios vem caindo. Em 2017 foram 30,9 mortes intencionais para cada 100 mil habitantes, índice que baixou para 22,3 mortes por 100 mil, em 2021.
A redução também acontece no Rio Grande do Sul, que teve 27,7 mortes intencionais para cada 100 mil habitantes em 2017 e, no ano passado, registrou taxa de 15,9.
É o duelo das estatísticas, com cada lado puxando para o que mais lhe agrada. O importante é celebrar a queda de mortes, mesmo que o país continue sendo um dos mais violentos do mundo, com 20% dos homicídios registrados no planeta. Há muito por melhorar.