A Polícia Civil concluiu que, além das seis pessoas que morreram durante falha de fornecimento de oxigênio em um hospital de Campo Bom em março, outros 15 pacientes entubados faleceram dias depois, em decorrência da mesma causa. Inquérito com essa nova investigação deve ser enviado à Justiça nesta semana.
Foi em 19 de março que o Rio Grande do Sul soube que seis pessoas morreram por falta de fornecimento de oxigênio na Unidade de Tratamento Intensivo e na Emergência do hospital Lauro Reus, em Campo Bom, no Vale do Sinos. Todos eram doentes da covid-19 que estavam entubados. O que poucas pessoas sabiam é de que outros 15 doentes, igualmente internados ali, também morreram, horas ou dias depois. A sequência de 21 mortes chamou a atenção de vereadores, que avisaram a Polícia Civil.
Conforme levantamento apresentado pelo próprio hospital, na noite do dia 18 de março estavam entubadas 12 pessoas na UTI e nove na emergência. O inquérito policial conduzido pelo delegado Clóvis Nei da Silva deve concluir que todos os pacientes que estavam entubados em 19 de março morreram. Seis, naquele dia. Os demais, horas ou dias depois.
Clóvis Nei não antecipa a conclusão, mas fontes policiais revelam que o inquérito aponta a falta de fornecimento de oxigênio como decisiva para todas essas mortes. O delegado checou os prontuários médicos e os comparou com o relato dos familiares e pessoal do hospital. Constatou que as mortes ocorreram em decorrência da falta de oxigênio. A mortalidade é bem acima da média, mesmo numa doença como a covid-19, que ocasionou durante a pandemia a morte de dois em cada três doentes internados nas UTIs.
Em junho, um primeiro inquérito policial, sobre as seis mortes ocorridas em 18 de março, indiciou oito pessoas por homicídio culposo (não intencional, ocasionado por imprudência ou imperícia). Os indiciados são funcionários da mantenedora e da manutenção do hospital e da empresa que fornecia oxigênio à UTI. A nova investigação, sobre as outras 15 mortes, seguirá o mesmo caminho. A punição que cada suspeito está sujeita, em caso de condenação, é de homicídio culposo (detenção de um a três anos), com acréscimo que varia de 1/6 até a metade da pena, pelo total de mortes adicionais.
A Polícia Civil não antecipa os nomes e nem quantos são os indiciados, porque o inquérito ainda não foi concluído.
CONTRAPONTO
O que dizem o Hospital Lauro Reus e a sua mantenedora, a Associação Beneficente São Miguel:
a assessoria de imprensa informa que ainda não foi notificada da conclusão da investigação e por isso as entidades não se pronunciarão.
GZH não conseguiu contrato com a Air Liquide, que fornecia ar aos pacientes do hospital.