Ao admitir que matou seu próprio filho de 11 anos, Rafael, a mãe dele, Alexandra Dougokenski, entrou para a galeria das maiores vilãs da crônica criminal gaúcha. Comparável ao caso dela só o de outra mulher, Graciele Ugulini, que sepultou ainda vivo e agonizante o seu enteado, Bernardo Boldrini, em 2014. Ele também tinha 11 anos.
São várias as semelhanças entre os casos, a começar pela idade dos meninos e pelo fato de ambas as mulheres alegarem que cometeram o crime sem intenção. Graciele disse que Bernardo era muito agitado e por isso ministrou soníferos a ele, em quantidade que o teria desacordado, durante uma viagem. Quando estava inconsciente, o enterrou — ainda vivo, conforme perícia feita após o encontro do corpo dele.
Alexandra também alega que Rafael era muito agitado e, por isso, o dopou com soníferos. Como o menino continuava sem sono, ela resolveu estrangulá-lo. Fez isso e depois escondeu o corpo, para que todos pensassem que ele tinha sumido. Tanto a mãe de Rafael quanto a madrasta de Bernardo choraram com o “desaparecimento” das crianças, embora soubessem muito bem o que tinha acontecido.
Mas existem outras semelhanças. Mortes misteriosas que antecederam às das crianças, em ambos os casos. Vamos começar por Bernardo. A mãe dele, Odilaine Uglione, morreu com um tiro dentro do consultório do pai do menino, o médico Leandro Boldrini. Os dois estavam separados e discutiam muito. Boldrini alega que ela se matou na frente dele. Houve suspeita até de que uma secretária do médico teria escrito a carta de despedida de Odilaine, mas isso não foi confirmado. Duas investigações policiais concluíram que a mãe do garoto cometeu suicídio — embora a suspeita de assassinato sempre tenha pairado sobre Leandro. O médico e sua companheira, Graciele, foram condenados pelo assassinato do menino Bernardo.
Agora surge suspeita semelhante no caso Rafael. O padrasto dessa criança, José Dougokenski, também morreu de forma abrupta. E também foi, supostamente, por suicídio, via enforcamento. Como já se sabe que a mãe confessou a morte de Rafael, familiares de Dougokenski decidiram investigar a morte dele. Contrataram um perito particular, que é taxativo: o padrasto de Rafael não se matou, foi assassinado. E a única pessoa que admite ter estado presente na cena da morte é justamente Alexandra, a mãe de Rafael, como relata minha colega Jennifer Gularte em reportagem de GZH.
Os indícios de assassinato são baseados, sobretudo, em marcas no corpo e no laço da corda que não poderiam ter sido causadas por morte autoprovocada. E agora? Agora a Polícia Civil deve desarquivar esse caso, óbvio. No episódio de Bernardo, a nova investigação concluiu o mesmo que a primeira: suicídio. Mas é dever do Estado reinvestigar quando surgem fatos novos, como no caso que envolve o padrasto de Rafael.