A saída do general gaúcho Carlos Alberto dos Santos Cruz da poderosa Secretaria de Governo não chega a surpreender. Por trás da calma aparente das últimas semanas, ardia a brasa da discórdia acesa no início de maio, quando mensagens de WhatsApp atribuídas a ele, com críticas a Jair Bolsonaro, vazaram para a mídia. Nelas o general, supostamente, chamava Carlos Bolsonaro (filho do presidente) de "desequilibrado" e o secretário de Comunicação do governo, Fábio Wajngarten, de "frouxo".
Em entrevista a este colunista, Santos Cruz disse que essas declarações são fake e jamais existiram. Ele estaria num avião, sem comunicações telefônicas, quando a suposta mensagem de WhatsApp foi disparada. Bolsonaro chegou a cogitar demiti-lo na época, mas desistiu, em nome da governabilidade e, também, pressionado por outros generais-ministros, solidários ao colega de farda. Na época, ele falou que ficava no governo, "por enquanto".
O general vinha sendo alvo de Carlos Bolsonaro (vereador pelo PSC-RJ), que tenta influenciar nos rumos da comunicação no Palácio do Planalto, que era controlada por Santos Cruz. Ele também foi alvejado por dois poderosos aliados da família Bolsonaro: o pensador e guru Olavo de Carvalho — que chamou Santos Cruz de "bosta engomada" — e o pastor evangélico Marco Feliciano, que exigiu sua demissão.
Olavo e Feliciano coincidem numa crítica: Santos Cruz seria menos conservador do que o desejado pela maioria dos adeptos de Bolsonaro. E os demais militares do governo, também. Santos Cruz chegou a reagir, chamando Olavo de "histérico" e "esquizofrênico".
Este colunista falou com um amigo de Santos Cruz e também com um colega de farda dele, ambos ligados ao Planalto. Eles asseguram que o mal-estar entre Santos Cruz e os Bolsonaro persistiu e que a saída estava acertada desde meados de maio, na época da crise das mensagens de WhatsApp. Foi costurado um acordo para que ele permanecesse, evitando mais um escândalo que abalasse o governo. Às vésperas de nova viagem para a Inglaterra, decidiu-se pela demissão, já anunciada por Santos Cruz a colaboradores íntimos no início da semana.
Santos Cruz cai às vésperas de entrar em vigor, em 25 de junho, decreto que determina que todas nomeações devem passar pelo crivo da Secretaria de Governo. A sua, que agora não é mais sua.
O substituto de Santos Cruz, apesar de também ser general, Luiz Eduardo Ramos Pereira, é bem mais próximo das posições ideológicas de Bolsonaro. Ao contrário de Santos Cruz, ele defende, por exemplo, a transferência da embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém. Ele é evangélico fervoroso e foi adido em Israel. Mais uma vitória dos evangélicos e olavistas no governo.