Um dia depois de o general Eduardo Villas Bôas ter divulgado nota criticando o ideólogo de direita Olavo de Carvalho, o presidente Jair Bolsonaro tentou colocar panos quentes na divergência entre o guru e os militares, mas surpreendeu as Forças Armadas com elogios ao algoz do vice-presidente Hamilton Mourão e do ministro Santo Cruz, a quem chamou de "merda" e de "bosta engomada".
Ao mesmo tempo em que disse esperar que os desentendimentos entre Olavo e os militares se tornem página virada, Bolsonaro elogiou o autodeclarado filósofo, a quem chamou de "ícone", e disse que a obra de Olavo contribuiu para sua vitória na eleição do ano passado.
Em seu perfil no Twitter, escreveu: "Sempre o terei nesse conceito, continuo admirando o Olavo. Quanto aos desentendimentos ora públicos contra os militares, aos quais devo minha formação e admiração, espero que seja uma página virada por ambas as partes".
Olavo não deu trégua. No estilo grosseiro que caracteriza suas postagens, foi desrespeitoso com Villas Bôas, que sofre de uma doença degenerativa, mas continua em atividade e nunca perdeu a lucidez.
Dos Estados Unidos, onde mora, escreveu: "Os generais, para voltar a merecer o respeito popular, só têm de fazer o seguinte: arrepender-se, pedir desculpas e passar a obedecer o presidente sem tentar mudar o curso dos planos dele. É simples".
Em outro post, foi desrespeitoso com o problema de saúde de Villas Bôas: "Há coisas que nunca esperei ver, mas estou vendo. A pior delas foi altos oficiais militares, acossados por afirmações minhas que não conseguem contestar, irem buscar proteção escondendo-se por trás de um doente preso a uma cadeira de rodas. Nem o Lula seria capaz de tamanha baixeza".
Na segunda-feira (6), o "filósofo" deu mais uma demonstração do baixo nível que é sua marca registrada. “A quem me chama de desocupado não posso nem responder que desocupado é o cu dele, já que não para de cagar o dia inteiro”, tuitou.
Os ataques incomodaram até quem não está diretamente envolvido na briga. Ex-ministro do Desenvolvimento Social e hoje secretário da Saúde do Pará, o médico Alberto Beltrame disse à coluna que ficou indignado:
— Tive oportunidade de conviver com o general Villas Bôas, quando foi comandante do Exército. Grande figura humana, inteligente, sensível e carinhoso no trato. Aprendi a gostar dele e a admirá-lo. Ele é um grande brasileiro e gaúcho de Cruz Alta, de boa cepa.
Na nota que divulgou na segunda-feira, Villas Bôas escreveu: "Mais uma vez o senhor Olavo de Carvalho a partir de seu vazio existencial derrama seus ataques aos militares, às Forças Armadas, demonstrando total falta de princípios básicos de educação, de respeito e de um mínimo de humildade e modéstia".
Disse ainda que Olavo é um verdadeiro "Trótski de direita": "Não compreende que substituindo uma ideologia pela outra não contribui para a elaboração de uma base de pensamento que promova soluções concretas para os problemas brasileiros".