O general Carlos Alberto Santos Cruz, ministro da Secretaria de Governo, está furioso. Diz que é vítima de uma armação para indispô-lo com Jair Bolsonaro. O presidente deixou escapar, a amigos, que o general teria falado mal dele e seus familiares e estava disposto a demiti-lo. Isso foi na segunda-feira (13). Outros militares do ministério entraram em cena e acalmaram o ambiente, se solidarizando com Santos Cruz e reafirmando sua lealdade ao governo.
A raiz do problema seria um diálogo de WhatsApp em que Santos Cruz teria se queixado do presidente a um interlocutor, até agora não identificado. O próprio general enviou a GaúchaZH cópia dessa suposta conversa e garante que ela jamais existiu.
— O vagabundo que fabricou o diálogo falso, onde eu seria um dos interlocutores, falando do presidente, familiares, Fábio (Wajngarten, secretário de Comunicação) e do vice-presidente, cometeu um crime absurdamente mal feito, pois o print da tela revela que o "diálogo" foi no dia 6 de maio, dentro do horário que eu estava voando de Brasília para São Gabriel da Cachoeira-AM. Naquele dia, decolamos de Brasília pouco depois das 6h e chegamos lá por volta das 10h.
E o que diz o diálogo? Vamos a ele, com explicações entre parênteses:
Interlocutor desconhecido - General, como foi ontem? Resolveu?
Santos Cruz - Nada. Ele ficou insistindo no vídeo (Nota da Redação: se refere a Bolsonaro)
Interlocutor desconhecido - Tendi (entendi)
Santos Cruz - Mas eu disse na cara dele que isso era coisa do desequilibrado do filho dele e do frouxo do Fábio (estaria se referindo a Carlos Bolsonaro, o filho do presidente que mais alfineta militares, e a Fábio Wajngarten, secretário de Comunicação do governo).
Interlocutor desconhecido - E o que ele falou?
Santos Cruz - Que isso não ia se repetir. Mas eu não senti firmeza, ele deve ter dado OK por trás.
Interlocutor desconhecido - Ele é covarde. Terceiriza ataque. Idiota (se referindo ao presidente).
Santos Cruz - Sim.
O general afirma que esse diálogo jamais ocorreu e que "agora é a hora da Polícia Federal, para identificar o autor do crime".
Santos Cruz e Bolsonaro viajaram juntos para os EUA, o que pode ser sinal de que as coisas se acalmaram. Por enquanto.
O fato é que o general está na mira de dois setores situados mais à direita, no espectro ideológico do governo: os evangélicos e os adeptos do pensador Olavo de Carvalho, desafeto declarado de Santos Cruz. Esses dois nichos de apoiadores de Bolsonaro defendem que o Brasil lidere ofensiva anticomunista na política relativa à Venezuela, alinhamento ideológico aos EUA e a Israel, repúdio à China, e corte nas verbas para o que chamam de nichos esquerdistas, como as universidades. Além disso, disputam com os militares a liderança do pensamento (e verbas) para as linhas gerais de governo.
Muitas dessas verbas estão na Secretaria de Comunicação, controlada por Fábio Wajngarten — exatamente aquele que é criticado por Santos Cruz no diálogo que o general diz que não existiu.
Olavistas espalharam nas redes o diálogo, como se fosse verdadeiro. Militares saíram em defesa de Santos Cruz. Os neutros do governo comentam, assustados: como aprovar reformas importantes num clima desses?