Brasília ferve nesta segunda-feira (13) com boatos de que o presidente Jair Bolsonaro pode demitir o ministro chefe da Secretaria de Governo, general Carlos Alberto dos Santos Cruz. Os que mais incendeiam o ânimo são blogs e ativistas sociais que apoiam o pensador Olavo de Carvalho, que nos últimos dois meses tem se dedicado a criticar diuturnamente o general.
É uma briga dentro do mesmo campo ideológico, o do lado direito do espectro político. De um lado estão pragmáticos em diplomacia externa, como é o caso de Santos Cruz e outros generais-ministros, todos avessos à ideia de brigas com a China e com países árabes - alvo da crítica permanente dos olavistas. Os adeptos de Olavo também criticam o rígido controle sobre verbas publicitárias que Santos Cruz impôs (ele é o chefe da Secretaria de Comunicação do governo). Há um montante de R$ 150 milhões em jogo e, mais do que isso, uma queda de braço sobre que rumos ideológicos seguirá a propaganda governamental.
Santos Cruz já foi chamado de "bosta", "covarde" e outros adjetivos por Olavo. Ao retrucar, o general já definiu Olavo como "desocupado esquizofrênico" e homem "de baixo calão". Ele também demitiu uma servidora, olavista, que defendia transferência imediata da embaixada brasileira em Israel para Jerusalém, posição que desagrada aos árabes e, por isso, também evitada pelos militares do governo brasileiro.
Há uma semana, Santos Cruz se queixou a Bolsonaro a respeito dos ataques de Olavo. Fontes de Brasília informaram a este colunista que o presidente avisou o ministro de que também já engoliu "muito sapo" e que tanto o general quanto Olavo são adultos e teriam de se entender. O presidente também voltou a manifestar publicamente apreço por Olavo, a quem elogiou por ser o único pensador que durante décadas "resistiu ao domínio da ideologia esquerdista" no meio intelectual brasileiro. E determinou corte de 44% no orçamento das Forças Armadas, o que desagradou em muito os militares.
Santos Cruz teria pedido um desagravo público a Bolsonaro, que não veio. Ele estuda o que fazer. Ofertas não lhe faltam. É, de longe, o militar brasileiro mais prestigiado no Exterior: foi comandante de duas missões de Paz da ONU (no Haiti e Congo) e dá cursos a generais de outros países sobre como atuar em prol das Nações Unidas.
A coluna falou com admiradores do general. Eles são taxativos: se Santos Cruz sair, não sai sozinho. É grande a possibilidade de uma debandada dos militares que ocupam hoje os principais cargos no governo, seja como ministros ou no segundo escalão. São hoje oito ministérios comandados por oficiais das Forças Armadas, a maioria da reserva, além de mais de 120 militares em outros cargos importantes. Eles representam o núcleo profissional mais volumoso no alto escalão do governo. Mas os olavistas também são numerosos, controlando pelo menos três ministérios e vários postos importantes.
Uma eventual saída de Santos Cruz pode ser o misterioso "tsunami" que Bolsonaro disse que ameaça abalar o país, em entrevista semana passada. Potencial de tremor teria, porque, nesse caso, o núcleo militar pouco faria para defender o presidente, ante ataques da oposição e de outras forças no próprio governo.