O general gaúcho Carlos Alberto dos Santos Cruz continuará à frente da poderosa Secretaria de Governo federal... por enquanto. Ele renovou um pacto de silêncio feito a pedido de outros generais e também de Jair Bolsonaro, mesmo diante dos ataques sistemáticos que tem recebido do pensador Olavo de Carvalho – guru do presidente – e dos seus adeptos nas redes sociais.
Santos Cruz e o presidente viajarão na mesma comitiva, nesta terça-feira (14), que vai aos Estados Unidos.
A briga interna no governo opõe o setor militar – pragmático, conciliador em relação ao Legislativo, moderado em política externa, conciliador em relação aos chineses e contrário à intervenção estrangeira na Venezuela – e o grupo encabeçado por Olavo – que prega mais ousadia anticomunista na política relativa à Venezuela, alinhamento ideológico aos EUA e a Israel, repúdio à China, e corte nas verbas para o que chamam de nichos esquerdistas, como as universidades.
Na realidade, disputam a liderança do pensamento (e verbas) que guiam as linhas de governo.
Há uma semana Santos Cruz, chamado mais de uma vez de "bosta", "covarde" e "idiota" por Olavo, ganhou a solidariedade do antigo comandante do Exército, o também gaúcho general Eduardo Villas Bôas. Olavo de Carvalho, então, acusou Santos Cruz de se escorar "atrás de um doente preso a um cadeira de rodas" – Villas Bôas sofre de doença degenerativa.
Irado, Santos Cruz exigiu do presidente uma posição firme ante os ataques sofridos. Jair Bolsonaro recomendou que ele se acalmasse e ainda elogiou Olavo, pelo seu anti-esquerdismo histórico.
Os seguidores virtuais de Olavo viram nisso uma vitória política e passaram dias pedindo a demissão de Santos Cruz, numa corrente na internet que atingiu o auge na segunda-feira (13). O general ganhou solidariedade de outros generais. Mesmo sem ser explícita, ficou no ar a possibilidade de que, se ele fosse demitido, os outros sete ministros militares sairiam também, deixando o governo numa sinuca política.
O fato é que Santos Cruz ficou. Não se sabe por quanto tempo. Nesta terça-feira ele estará junto com Bolsonaro na viagem a Dallas (Texas), onde o presidente brasileiro será homenageado como "Personalidade do Ano" pela Câmara de Comércio Brasil-EUA. As milícias virtuais dos dois lados, por ora, silenciaram.