O soldado Fabiano Heck Lunkes teve sepultamento de herói, porque herói ele foi, no confronto em Campina das Missões. Participou do cerco a assaltantes de banco que estavam melhor armados. O PM estava com equipamento de segurança inadequado - o colete que usava não protegia contra tiros de fuzil, que os bandidos portavam.
Lunkes fez o que a maioria dos policiais faz quando a emergência bate na porta: junto com colegas, foi no encalço dos bandidos. O ideal é que ele usasse um colete nível 4, aqueles pesadões usados em guerra pelas Forças Armadas, resistentes ao poder perfuratório de fuzis de médio e grosso calibre.
Acontece que os policiais que atuam no patrulhamento das pequenas cidades não têm esse equipamento. A prerrogativa é dos Batalhões de Operações Especiais (Bope), com sedes nas grandes cidades, e dos Pelotões de Operações Especiais (POE), que atuam nas de médio porte e no apoio aos batalhões das regiões metropolitanas. Colete resistente a tiro de fuzil é um luxo que ainda não chegou nos rincões gaúchos.
Tem razão o comando da BM ao ressaltar que os coletes resistente a fuzil, pelo peso, não são usados no cotidiano, só em ocasiões especiais, quando se sabe que o policial irá enfrentar grande poder de fogo. Acontece que Lunkes estava em missão justamente contra bandidos bem-armados, cercados e dispostos a tudo. Seria o caso de utilizar o colete nível 4. E seria o caso, também, de existirem mais deles para guarnições das pequenas cidades, tão visadas pelo novo cangaço dos assaltantes.
Lunkes não tinha esse colete e participou do cerco mesmo assim. Compreensível. Não quis ficar esperando chegar mais equipamento de outras regiões, com risco de os bandidos fugirem. Para servir e proteger, diz o lema dos policiais, no mundo inteiro. E o soldado Lunkes morreu fiel a essa regra. Conforme seus colegas, ele ainda deu chance aos bandidos de se entregarem. Eles responderam com tiros, na ousadia irresponsável que caracteriza os criminosos. Como se vê, valentia não falta à maioria dos policiais. Fica a dica para os empresários que têm patrocinado doações às polícias: é hora de coletes melhores, além de viaturas e armas.