Deu a lógica na condenação de Luiz Inácio Lula da Silva a 12 anos de reclusão por corrupção e lavagem de dinheiro, sentença divulgada nesta quarta-feira (6) pela 13ª Vara Federal de Curitiba. De todos os processos a que o ex-presidente responde, esse é o que tem mais indícios materiais contra ele — pelo menos, para quem lê o conteúdo da denúncia.
Lula foi condenado por receber um sítio em Atibaia (SP) como pagamento por supostos favores prestados a empreiteiras, quando era presidente da República. Depoimentos de empreiteiros, em colaboração premiada, afirmaram que diversas reformas foram feitas no imóvel para agradar ao ex-presidente.
O imóvel não está em nome de Lula, o que é ressaltado por seus defensores. Acontece que Lula viajou pelo menos 111 vezes a Atibaia para permanecer no sítio, conforme as investigações da Polícia Federal. Poderia ser só visita? Poderia. Mas foram decisivos na condenação laudos elaborados por peritos da PF em 2016. Eles encontraram pertences pessoais de Lula em seis dependências do sítio. Entre os pertences da família de Lula na chácara foram localizados roupas, fotos, banners e produtos de higiene personalizados. Além disso, uma adega com vinhos e cachaças. Uma das garrafas, de dois litros, é uma aguardente de cana da marca Havana e contém, impressa em etiqueta adesiva, uma dedicatória com a inscrição: "Ao eterno Presidente do Brasil Luiz Inácio (Lula)".
Algumas roupas de cama tinham um bordado com L e M, iniciais de Lula e Marisa, ressalta a perícia.
Lula nunca negou que frequentava o sítio, mas diz que o local pertence a amigos e que ele apenas fazia visitas. Não é o que dizem Emílio Odebrecht, seu filho Marcelo Odebrecht (ambos do grupo com o mesmo nome), Alexandrino Alencar (também da Odebrecht) e Leo Pinheiro (da construtora OAS). Todos afirmam que reformas foram feitas no "sítio do Lula". Poderiam ter mentido? Poderiam.
Mas a PF também tem gravações de telefonemas em que o suposto dono do sítio, Fernando Bittar, pede a um dos filhos de Lula permissão para visitar a chácara. Ora, por que pedir licença para frequentar um imóvel que lhe pertence? Porque o sítio não era dele, e sim do ex-presidente, conclui a juíza Gabriela Hardt, na sentença. Bittar também foi condenado, por lavagem de dinheiro, justamente por fingir ser o dono do local. A magistrada decretou ainda o sequestro do imóvel, que não pode ser negociado, a menos que a sentença seja reformada em segundo ou terceiro graus.