O juiz paranaense Sergio Moro, face mais visível da mais importante operação anti-corrupção já realizada no país, a Lava-Jato, foi confirmado nesta quinta-feira (1) como ministro da Justiça no futuro governo de Jair Bolsonaro (PSL). Várias são as consequências de ele ser empossado num cargo político, para ele e para a própria Lava-Jato, que desde 2014 virou uma "cruzada" de policiais federais, procuradores da República e magistrados contra o saque nas estatais promovido em conluio por empresários e políticos de variados matizes ideológicos.
Para Moro é um salto no escuro. Ele terá de abandonar a bem-sucedida carreira de magistrado, se aposentando precocemente. Basta uma briga que seja com o futuro presidente Jair Bolsonaro e o hoje estelar magistrado ficará desempregado. Não lhe faltarão convites para outras atividades, óbvio. Mas juiz de carreira não poderá ser mais (a lei veda que exerça outras funções fora do Judiciário, excetuado dar aulas).
Mas Moro pode estar mesmo cansado de carregar o fardo da Lava-Jato e desejoso de migrar para outras funções. Natural. Só que sua imagem não voltará a ser a mesma, aceitando um cargo de confiança na gestão Bolsonaro, alertam dois procuradores da República ouvidos por este colunista, antes da confirmação da decisão de Moro. Há anos que o juiz é acusado de parcialidade por alguns partidos políticos, notadamente o PT. Assumir no ministério do homem que derrotou nas urnas os petistas seria assinar embaixo das teorias que consideram a Lava-Jato uma conspiração contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (condenado por Moro) e seu legado político, acreditam esses integrantes do Ministério Público Federal.
— Mais do que isso, toda a Lava-Jato pode ficar sob suspeita. Ela nunca foi uma operação contra um partido, atingiu dezenas de agremiações, mas essa isenção pode ficar maculada. Afinal, o juiz é o rosto da operação — pondera um ex-integrante da Lava-Jato.
Essa opinião não é unânime. O procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima, que por anos foi o decano da força-tarefa do MPF na Lava-Jato, não acredita que a operação seja atingida com a migração de Moro para o ministério de Bolsonaro.
"O reconhecimento do presidente (Bolsonaro) sobre um trabalho importante como o de Sergio Moro não pode comprometer de qualquer forma a Operação Lava-Jato, pois em nenhum momento teve qualquer influência sobre as decisões da operação, já que é posterior a elas", afirmou Lima em nota. "Quem conhece Moro sabe de sua honestidade pessoal", finalizou o procurador.
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