Frio e vinho em pleno Nordeste, se essa imagem lhe parecer estranha, você talvez esteja precisando rever a geografia da produção no país. O polo que floresce no agreste de Pernambuco, no município de Garanhuns, é uma prova de que a vitivinicultura brasileira não tem limites. A partir de uma parceria entre pesquisa e empreendedores locais, foi possível desenvolver a atividade de forma comercial, fortemente embasada no enoturismo.
A pesquisadora da Embrapa Patrícia Coelho de Souza Leão explica que o ponto de partida foi um projeto, que começou a ser desenvolvido em 2013. A ideia era testar novos locais de produção, para além da já consolidado espaço no Vale do São Francisco. Garanhuns era um de três pontos onde se iniciou o trabalho de pesquisa.
_ A Embrapa identificou potencial baseado no turismo (da cidade). Nada melhor do que aproveitar isso _ conta Patrícia.
O turismo a que se refere vem da tradição do festival de inverno. O agreste, acrescenta a pesquisadora, é uma zona de transição entre a Zona da Mata e o Sertão nordestino. Já é seca, mas não tanto como o semiárido. Na estação do frio, chega a registrar temperaturas inferiores a 10ºC.
Do trabalho de pesquisa, feito em parceria com a Universidade Federal do Agreste de Pernambuco e o Instituto Agronômico de Pernambuco, foram cinco colheitas de uva em áreas experimentais. Seis variedades foram recomendadas para região (muscat blanc à petits grains, sauvignon blanc, viognie, syrah, cabernet sauvignon e malbec). A primeira safra comercial foi em 2018/2019.
_ Houve um casamento da pesquisa com o interesse de um empreendedor local _ lembra Patrícia.
Michel Moreira Leite enxergou o potencial e criou a vinícola Vale das Colinas. Hoje, produz cerca de 6 mil garrafas de vinho por ano.
_ Dessa primeira vinícola, muitos outros empresários estão vendo a vitivinicultura como opção _ resume a pesquisadora.