Quando falamos em Nordeste, geralmente nos vem à mente praia, calor, sombra e água de coco. Mas vai por mim, é muito mais do que isso. A partir do final da década de 1970, a região deu início aos primeiros investimentos em vitivinicultura no entorno do Velho Chico, a partir da irrigação do Rio São Francisco, surgindo, assim, os primeiros vinhos tropicais.
Segundo a Embrapa, atualmente, o cultivo de uvas próprias para produção de vinhos conta com cerca de 500 hectares. A Indicação de Procedência do Vale do São Francisco está em fase de estruturação. Compartilhamos dicas sobre a produção na região e, como não poderia faltar, sugestões de rótulos locais e harmonizações com comidas típicas nordestinas. A seleção é da jornalista e sommelière Paula Theotonio.
A REGIÃO
A extensão de clima tropical está concentrada entre Petrolina e Juazeiro, nos Estados de Pernambuco e da Bahia. O clima quente e seco provoca o crescimento vegetativo com auxílio de irrigação, permitindo a produção controlada das uvas ao longo dos 12 meses, sendo um diferencial da área produzir até 2,5 safras ao ano, com cada colheita bem distinta uma da outra.
AS SAFRAS
Paula Theotonio explica que a uva syrah, por exemplo, foi uma das variedades que mais se adaptou à viticultura tropical. No início do ano, com o verão quente e chuvoso, a uva tende a produzir mais álcool, gerando vinhos encorpados e estruturados pela alta presença de taninos. No entanto, quando a extração ocorre no inverno, momento em que as temperaturas são mais amenas e com maior amplitude térmica, a maturação é mais lenta, originando rótulos de coloração intensa, taninos macios e acidez equilibrada. Quando a safra é no final do ano, entre o encerramento da primavera e o início do verão, a syrah é ideal para espumantes jovens.
O bioma da Caatinga também se destaca na produção de uvas aromáticas, como as da família moscatel, desenvolvendo excelentes espumantes e frisantes. Segundo a especialista, a região ainda é muito nova, por isso, as vinícolas estão em constantes testes de variedades, buscando adaptabilidades e potenciais. Mas já existem bons resultados com variedades brancas, como chenin blanc, viognier, verejo e sauvignon blanc, e variedades tintas, como tempranillo, grenache, touriga nacional, além, é claro, da syrah, uma das pioneiras da região.
O ENOTURISMO
O progresso do Vale do São Francisco não para por aí. O enoturismo também se desenvolveu ao longo dos últimos anos, oferecendo almoços nas vinícolas, colheita de uva direto do pé e também passeios de barco. O roteiro é bem emblemático, animado e cheio de experiências do sertão caatingueiro.
Indicação de rótulos
1. Rio Sol Brut Rosé
Preço médio: R$ 50
Combina com moqueca de Cari (peixe do Rio São Francisco)
2. Miolo Testardi Syrah
Preço médio: R$ 185
Combina com carneiro ao molho
3. Almadén Moscatel Rosé
Preço médio: R$ 30
Combina com bolo de rolo
4. Rio Sol Touriga Nacional
Preço médio: R$ 80
Combina com carneiro assado
5. Garziera Chardonnay e Chenin Blanc
Preço médio: R$ 50
Combina com peixe assado