Na hora de brindar a chegada do Ano Novo, a preferência à mesa é pelo espumante. A bebida, que também é o carro-chefe das vendas dos vinhos nacionais, ajudou a colocar o Brasil na vitrine do mundo todo. Associada a comemorações, a bebida tem no Rio Grande do Sul o principal polo de produção do país. Para falar sobre tendências de produção e consumo em 2024, a coluna conversou com o enólogo Luiz Gustavo Lovato. Sócio-fundador do Brasil de Vinhos, portal que traz um guia da vitivinicultura no país, ele também dá dicas sobre como harmonizar as diferentes variedades com a ceia. Veja trechos da entrevista concedida ao programa Campo e Lavoura, da Rádio Gaúcha deste domingo (31).
Moscatel ou Brut?
"O moscatel, em geral, é o espumante doce. E esse açúcar é natural. Passa por uma única fermentação e é feito com uvas da família moscato. É uma família grande de variedades de uva, que são extremamente aromáticas, lembra muito aroma frutado e floral. E esse método de vinificação permite que esse espumante seja muito fresco e preserve uma doçura natural. O brut é feito por um método que tem duas fermentações, pode ser a charmat ou a tradicional. O que determina que seja brut é a concentração de açúcar final. Geralmente, são espumantes mais secos. Mas no geral, para quem já está acostumado a beber espumante, é muito versátil".
Como "combinar" com a ceia
"Há duas formas básicas de harmonizar: primeiro é por semelhança, digamos assim. Tenho uma comida gordurosa, então vou buscar vinhos mais encorpados. Quanto mais intenso for o sabor desse prato, vou procurar, também, vinhos que sejam mais intensos. Outra forma é por contraste. Tenho comidas ou pratos muito salgados, posso harmonizar com algo mais doce. O agridoce já uma combinação que a gente está mais acostumado no dia a dia. Moscatel com pratos muito salgados, pode harmonizar muito bem. Moscatel com uma sobremesa, aí pela semelhança, também vai muito bem. Já o brut ou os espumantes menos adocicados (extra brut, nature) têm uma versatilidade maior, porque o gás carbônico e a acidez desses vinhos tendem a harmonizar ou neutralizar muito bem com pratos gordurosos, queijos, carnes. Muitas vezes substitui o vinho encorpado e tânico. Costumo dizer que o espumante menos adocicado é o coringa. Mesmo para quem não está acostumado, acho que vale a pena, neste final de ano, se propor ou pelo menos provar, para conseguir até uma experiência gastronômica diferente nessa virada".
Tendências para 2024
Tem algumas tendências globais que podem, de alguma forma, influenciar o mercado brasileiro, tanto em produção quanto em consumo. Há um consumo e uma produção de vinhos brancos e rosés muito grande, e isso muito impulsionado pelos espumantes. A base para um vinho espumante geralmente é um vinho branco ou rosé. Os espumantes já têm sido, nos últimos anos, o principal motor que impulsiona a produção de vinhos finos. Primeira coisa: vinhos brancos e rosés como um todo tendem a ganhar mais espaço do que nunca neste ano de 2024. E, também, algo interessante a se observar: há uma tendência de trabalhar variedades que até então estavam um pouco abandonadas. Já há vinícolas resgatando variedades como moscato, malvasia que são variedades de uvas brancas, até então destinadas à produção de espumantes simples, estão sendo retrabalhadas por enólogos muito criativos e talentosos, produzindo vinhos tranquilos excelentes".
Qualidade do espumante brasileiro
"O espumante brasileiro é conhecido internacionalmente, tem uma região que encontrou sua vocação, principalmente na serra gaúcha, principalmente por conta do clima, que permite que as uvas preservem a acidez, isso aliado a uma tecnologia e a uma expertise que já vem de algumas décadas, permite produzir espumantes de classe internacional, que se equiparam a grandes regiões produtoras do mundo. Hoje, sem dúvida, não tem como errar adquirindo uma garrafa de espumante brasileiro".
A entrevista completa ao programa Campo e Lavoura pode ser conferida na íntegra abaixo.