A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Assim como nas refeições do dia a dia, o agro também "põe a mesa" na ceia do Ano-Novo. Do arroz à romã, da carne suína ao louro, os alimentos consumidos nessa data têm diferentes origens, alguns são produzidos no Rio Grande do Sul, outros vêm "de fora". E geralmente são levados à panela por tradição, com pitadas (ou não) de superstição. Em clima de final de ano, a coluna fui buscar informações sobre a produção e outras curiosidades de alguns dos produtos que ajudam a compor a refeição no último dia do ano.
Arroz
Tradicional acompanhamento das refeições no Brasil, o arroz também marca presença na celebração do Ano-Novo. O Rio Grande do Sul é maior produtor nacional, respondendo por cerca de 70% do volume total do país. Ou seja: o arroz "é de casa" para os gaúchos. Na safra em curso, 2023/2024, a projeção da Federação das Associações de Arrozeiros do Estado (Federarroz-RS) é de que a colheita fique perto de 7 milhões de toneladas.
A estimativa considera uma queda estimada, neste momento, de 5% a 10% na produtividade, em razão das condições climáticas trazidas pelo El Niño. Esse fator pode intensificar outros ingredientes que colocaram os preços ao produtor "em fogo alto". Estão nessa lista a redução sistemática de área cultivada, o ajustado estoque de passagem e a redução da oferta global do cereal, entre outros. O valor da saca alcançou recordes nominais em dezembro, ao superar a barreira de R$ 130.
Nas gôndolas do supermercado, também deve haver reajuste no quilo do arroz, em proporção inferior. Presidente da Federarroz-RS, Alexandre Velho avalia que o impacto no bolso do consumidor deve ser pequeno, já que mesmo com aumento deve seguir tendo valor considerado acessível.
Romã
Item frequente na decoração da mesa de fim de ano, a romã simboliza fartura, sorte e fertilidade. A maior parte da fruta ofertada na Centrais de Abastecimento do Estado (Ceasa) vem dos Estados Unidos, segundo o gerente técnico, Claiton Colvelo.
— Existe alguma produção de romã nos Estados do Sul, na Paraíba, em Pernambuco e em São Paulo — acrescenta Colvelo.
De acordo com o último dado do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o RS tem 3 mil pés plantados e 10 propriedades produtoras da fruta. A título de comparação, São Paulo, concentra 10 mil pés em 23 propriedades, com uma produção de 95 toneladas da fruta em 24 hectares. No país, o maior produtor é Pernambuco.
Louro
Uma simpatia tradicional do Ano-Novo é guardar uma folha de louro na carteira na noite da virada. O vegetal também é bastante usado como tempero nas receitas da ceia. Na Ceasa, segundoColvelo, há produção que vem Caxias do Sul. Neste ano, houve "pequenas entradas" também de produto de Alvorada, Caxias do Sul, Portão, Capela de Santana, Gravataí, São Francisco de Paula e Torres.
— A árvore do louro tem preferência por temperaturas mais amenas — explica o gerente técnico da Ceasa.
Segundo o IBGE, o Estado produz 124 toneladas da folha e tem no município de Dois Lajeados o maior produtor. Com 78 hectares e 69 mil pés, nove propriedades produzem comercialmente a folha. No país, o maior produtor é São Paulo.
Lentilha
Arredondada, a lentilha lembra o formato de moedas e, no último dia do ano, é bastante usada na culinária com o objetivo de atrair dinheiro. O Brasil tem uma produção pequena do grão, oito toneladas, segundo o IBGE, concentrada na safra de inverno. Praticamente toda a demanda interna é atendida pela importação de países como o Canadá, Líbano e França. Em 2019, o Brasil importou 14,5 mil toneladas de lentilha, segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). No Rio Grande do Sul, a produção é de apenas uma tonelada.
Uva
A tradição de comer uma uva para cada mês do ano no Ano-Novo encontra no Rio Grande do Sul o principal fornecedor. O Estado responde por praticamente metade da produção nacional — 735 mil toneladas da fruta, consideradas as variedades de mesa e para a produção de vinhos. Voltando para a noite da virada, além de comer, também se tem o costume de guardar os caroços na carteira para dar sorte no próximo ano.
Carne suína
Do lombo ao pernil, a carne suína é a protagonista da ceia de Ano-Novo. Com focinho para frente, o animal representa progresso e abundância. E, no Brasil, o Rio Grande do Sul é importante produtor, com o terceiro maior volume de animais abatidos.