Há muitas formas de avaliar os dados do PIB gaúcho do primeiro trimestre, apresentados nesta terça-feira (25) pelo Departamento e Economia e Estatística (DEE) da Secretaria de Planejamento. Isoladamente, janeiro, fevereiro e março de 2024 são um começo de ano promissor: a economia do Rio Grande do Sul cresceu 6,4% em relação a igual período de 2023. Avanço que veio a reboque dos expressivos 43,5% de alta registrados na agropecuária, em um período do ano que nem é seu ponto forte.
Colocado em perspectiva, o resultado, no entanto, dilui a euforia do crescimento esperado para 2024. Primeiro, porque é preciso lembrar da base de comparação que fez o agro chegar à essa expansão percentual tão significativa. O ano de 2023 foi melhor do que o de 2022, mas ainda assim, sob efeitos de uma estiagem sobre a safra de verão e de um excesso de chuva que encolheu a produção de inverno. Mas, então, não houve avanço real, só recuperação?
— Ocorreram as duas coisas. Houve uma recuperação, após dois anos de estiagem, que explica a maior parte. Mas quando a gente olha a soja, não apenas recuperou a produção, como expandiu. Seria a maior produção do Rio Grande do Sul — explica o economista do DEE Martinho Lazzari.
O verbo no tempo condicional, "seria", indica o outro fator a ser incluído na perspectiva econômica do Estado para este ano: a catástrofe climática registrada em maio. É a força das águas sobre todos os setores que impedirá a concretização do prognóstico esperado. A agropecuária, ainda assim, tende a crescer (pela régua de comparação, que são as safras anteriores marcadas pela estiagem), o que não quer dizer que não será afetada pela cheia.
— É natural que, devido à base de comparação, tenhamos um resultado melhor, mas estar melhor não significa estar bem — reforça Antônio da Luz, economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado (Farsul).
Lazzari acrescenta que o efeito da catástrofe sobre o agro "foi muito grande" e terá "rebotes" que se estenderão. Entram nessa relação o impacto sobre o plantio de trigo, o solo e a realidade de um produtor descapitalizado:
— Terá de haver muito investimento dos entes públicos e do produtor para reativar a fertilidade do solo.
Tradicionalmente, é no segundo trimestre que a produção agropecuária tem o seu maior impacto. E foi também nele que aconteceu a tragédia climática no Estado. São duas forças intensas e contrárias em campo.
— Tem dois efeitos majorados no segundo trimestre: tanto é o ponto alto da safra, quanto o pior momento das cheias — comparou Pedro Zuanazzi, diretor do DEE.