Levantamento feito por pesquisadores da Faculdade de Agronomia da UFRGS e integrantes Associação de Conservação de Solo e Água mapeou o tamanho do estrago causado pelas cheias em dois aspectos: nos prejuízos à produção e nas perdas de solo e nutrientes. Intitulado “Maio vermelho”: o impacto do evento climático extremo na agropecuária gaúcha, o estudo chegou a uma cifra total de R$ 25,5 bilhões, com R$ 19,4 bilhões referentes à perda física de produto e R$ 6 bilhões decorrentes dos danos ao solo e aos nutrientes. Um dos responsáveis pelo trabalho, Pedro Alberto Selbach, professor do Departamento de Solos da universidade, explica que esse é um diagnóstico inicial, que proporcionará depois um trabalho mais aprofundado nas mesorregiões.
Para fazer esse diagnóstico, os pesquisadores (o grupo é formado também por Renato Levien e Michael Mazurana) utilizaram a divisão do Estado em sete mesorregiões, conforme uma série de características afins. Nesse mapa, quando o assunto é perda total de solo por erosão hídrica, o Noroeste aparece com o maior percentual, 35%. Selbach pondera que é preciso considerar o fato dessa região ser a de maior área utilizável para a produção. Quando considera-se a perda por área, as mesorregiões Centro Oriental e Ocidental são as que trazem o maior percentual.
— O solo tem capacidade de infiltrar (água), mas ela é limitada. Quando saturou essa capacidade, a água começou a escorrer. O solo é como se fosse uma esponja: se mergulhada na água e depois levantada, começa a escorrer. Vai até um ponto que equilibra, depois escorre — compara o pesquisador.
No cálculo dos prejuízos de solos e nutrientes foi feita uma estimativa de recursos financeiros, transformando a perda de solo em um custo, explica o professor do Departamento de Solos da Faculdade de Agronomia da UFGRS. No caso de nutrientes, esse dado considera apenas os "macro": potássio, nitrogênio e fósforo.
O trabalho para a recomposição do que foi literalmente levado pelas águas é de longo prazo: estima-se pelo menos de 10 a 15 anos. Os primeiros passos? Amostragem para a análise dos nutrientes, recomposição desses nutrientes e fortalecimento do sistema de plantio direto.
— Será preciso estratégia até para o tipo de cobertura que deve ser colocada — pontua Selbach.
Por que maio vermelho?
- A expressão no título da pesquisa é uma referência a um outro período em que houve uma situação de danos extensos no RS. Foi em novembro do ano de 1978, quando o Estado foi afetado pela passagem do fenômeno El Niño e registrou "um capítulo sem precedentes quanto a perdas de solo por erosão hídrica", em um evento que ficou conhecido como “novembro vermelho”. A expressão vinha da cor da água ao se misturar com a terra
- À época, os prejuízos econômicos às lavouras situadas no Planalto Riograndense foram estimados em US$ 33 milhões pelos professores Daniel Gianluppi, Iraci Scopel e João Mielniczuk, do Departamento de Solos da UFRGS, somente considerando as perdas com solo e nutrientes perdidos pela erosão hídrica, após 15 dias de chuvas intensas