O sistema de cálculo do Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Sul tem uma diferença importante em relação ao do Brasil: não embute o que a coluna costuma chamar de "indicador de futuro". Esse dado, chamado Formação Bruta do Capital Fixo (FBCF), mostra os investimentos feitos no período, que vão resultar em crescimento logo ali adiante.
Então, o resultado da geração de riqueza no Estado no primeiro trimestre, de crescimento de 4,1% sobre o quarto trimestre de 2023 e ainda mais robustos 6,4% na comparação com igual período do ano passado, vai deixar saudade.
Todas as projeções para o resultado do segundo trimestre, que inclui o maio do dilúvio sobre o Estado, são de um tombo histórico. Nunca ficou tão claro o quanto a geração de riqueza no Rio Grande do Sul é determinada pela água, seja por escassez, nas estiagens, seja por excesso nas enchentes que deixam rastros de destruição.
— A gente não crescia tanto mais em relação à média nacional há muito tempo — observou quase em tom de lamento Martinho Lazzari, economista do Departamento de Economia e Estatística (DEE) responsável pelo cálculo do PIB gaúcho, sobre os acumulados em 12 meses, de 3% no RS e 2,5% na média nacional.
Pedro Zuanazzi, diretor do DEE, disse que, exatamente por ser responsável pelo cálculo do PIB, a entidade não costuma fazer projeções de resultado futuro:
— As entidades estimavam crescimento de 4% a 5% para este ano, sem enchentes. Nenhuma vai se confirmar, porque tem mudança de cenário. Mas é preciso entender que, se no final do ano o resultado for zero, significa que o RS perdeu 5 pontos percentuais de crescimento, que era a recuperação projetada. Se cair 5% no final do ano, a perda será de 10 pontos percentuais.
Lazzari afirmou que nem o IBGE já tem dados disponíveis sobre maio, que só vão começar a aparecer na primeira semana de julho. Essa é uma das dificuldades de projetar o impacto da enchente no PIB gaúcho.
A coluna quis saber se um novo momento, o da reconstrução, pode compensar as perdas, em algum momento do futuro. Zuanazzi ponderou que, embora a literatura sobre choques provocados por eventos extremos registre uma fase de aumento de demanda com a reconstrução, os ritmos são diferentes:
— Houve casos de recuperação mais lenta, como na Tailândia, mas outros tiveram efeitos positivos e conseguiram se recuperar quando o momento da reconstrução puxou o PIB para cima. É preciso analisar o que fez os países conseguirem reconstruir com mais rapidez para saber se o choque de demanda será suficiente para compensar o impacto da destruição de capital, com empresas que não poderão operar por três, seis ou nove meses.