Quando o assunto é o prejuízo deixado pela cheia no Rio Grande do Sul, todos os números são superlativos e tendem a ficar ainda maiores com o tempo. Entre os tantos danos diagnosticados pela Emater em 206.604 propriedades rurais do Rio Grande do Sul, chama a atenção o da quantidade de casas afetadas. Foram 14.029 residências com algum tipo de problema, de pequenas avarias a perda total.
Os maiores números de registros estão nas regionais de Santa Maria (3.784) e Lajeado (2.853), que juntas somam quase 50% do dado estadual. Acrescentando Pelotas (2.198), Soledade (1.842) e Porto Alegre (1.236), chega-se a 85% do total de casos de impacto em residências de produtores rurais.
— Em algumas situações, há domicílios que praticamente não existem mais. Ao retornarem para as suas casas, encontraram um amontoado de pedras onde antes havia uma casa, ou apenas o contrapiso. Essas pessoas ficam muito impactadas — relata Eduardo Condorelli, superintendente no Estado do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-RS).
O dirigente esteve, na semana passada, em um giro por 11 municípios de um universo de 109 (o recorte considerou aqueles com estado de calamidade ou em rota de emergência nos 10 primeiros dias de maio). Desses, em apenas 12 não foram registrados impactos a domicílios (nesse caso, residências localizadas no meio rural, não necessariamente de produtores ou trabalhadores rurais).
A Cooperativa Habitacional da Agricultura familiar (Coohaf), co-irmã da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado (Fetag-RS), está fazendo um mapeamento da demanda de agricultores pelo programa Minha Casa, Minha Vida Calamidade 2. Até o momento, conforme o presidente da cooperativa, Juarez Cândido, são 1.629 propostas de mais de 70 municípios.
— Ainda tem gente se inscrevendo. Acredito que vá aumentar um pouco mais a demanda de gente que precisará construir a casa em local mais seguro — estima.
O cadastramento de produtores interessados deve ser feito junto aos sindicatos de trabalhadores rurais dos municípios. A primeira etapa do Minha Casa, Minha Vida Calamidade, no Vale do Taquari, voltada a atender produtores da região afetados pela enchente em setembro do ano passado, deve começar a fazer as contratações até a metade deste mês, estima Cândido — serão 600 residências. O dirigente entende que, como o programa não exista, vários dispositivos tiveram de ser criados, o que fez com que o processo tivesse uma duração um pouco maior, com a tendência da segunda etapa ser mais ágil.
— É uma situação bastante complicada. A perda não foi apenas nas moradias, houve degradação das lavouras, das terras, que é o maior patrimônio do produtor. Onde a enchente não arrancou o solo todo, trouxe até 80 centímetros de pedra, bancos de areia. Também houve a perda de animais, e há dificuldade alimentar os que sobraram — completa.
Para dar conta de reerguer a propriedade, que, em muitos casos, perdeu inclusive a casa, será necessário um apoio extra, até psicológico. Entre ações imediatas, para um prazo de 90 a 120 dias, a iniciativa SOS Agro, coordenada pelo Senar-RS, e a SuperAção Agro RS, da CNA, mapearam aquisição de cobertor, colchão, geladeira, fogão, para que o produtor "tenha o mínimo para se restabelecer em casa". A limpeza das propriedades, a telemedicina, e a alimentação emergencial dos animais também entram nas medidas de apoio.