Do arroz ao leite, a chuvarada que cai sobre o Rio Grande do Sul traz impactos à safra e preocupação aos agricultores. Em final de ciclo, as lavouras de verão vão ficando debaixo d'água em um momento de grande suscetibilidade, o que deve provocar estragos que ainda não podem ser dimensionados. Só mesmo quando as precipitações cessarem, e o nível dos leitos voltar ao normal.
Nos pontos em que a colheita havia sido concluída, a força das águas também arrasta a terra e leva parte dos nutrientes do solo, em um "prejuízo incalculável", observa Alencar Rugeri, assistente técnico estadual da Emater. A produção de soja e de milho também fica exposta aos efeitos do excesso de umidade:
— A persistência (da chuva) terá reflexo na soja, mas depende de quanto tempo vai durar e de quanto vai chover. A Metade Sul, mais atrasada na colheita é onde há o maior risco. Onde está a céu aberto, fica vulnerável a essa condição (climática).
Apesar de ser irrigada por alagamento, a produção do arroz também fica sujeita aos danos de enchentes. O acamamento (a lavoura "deita") acaba afetando o potencial de produtividade da planta.
— Ainda não temos o impacto exato dessa chuvarada, mas deve ter prejuízo acentuado na região central do Estado. É uma mais vulneráveis a esse tipo de evento, pela proximidade de rios — pontua Luiz Fernando Siqueira coordenador da Divisão de Assistência Técnica e Extensão Rural (Dater) do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga).
É o que fica evidente na imagem acima registrada em Novo Cabrais. A área cultivada é tomada pelas águas do Arroio Mangueirinha, que transbordou com a chuva registrada entre a noite de segunda e esta terça (30). Tudo vira um grande fluxo de água. No local, parte da lavoura havia sido colhida e parte ainda estava por colher. Ênio Coelho, coordenador da Região Central do Irga explica que só mesmo quando a água voltar ao normal será possível precisar os efeitos, mas eles virão.
Esse ponto é o que está mais atrasado na colheita, em razão do descompasso no plantio da safra, quando também houve excesso de chuva. No Estado, o percentual do último levantamento do Irga, da semana passada, era de 78,76% da área total. Na Região Central, era de 60%.
Em áreas de produção de leite, uma dificuldade que começa a ser relatada, segndo Marcos Tang, presidente da Associação de Criadores de Gado Holandês (Gadolando) é a dificuldade de acesso às propriedades no interior, em razão das interrupções em estradas, para a coleta do produto, que é extremamente perecível, ressalta o dirigente.
— Tem a questão do leite de novo. Vai pastagem, vai silagem embora — completa Carlos Joel da Silva, presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado, ao relembrar perdas anteriores em bacias leiteiras.