Seja no volume de propostas de negócios encaminhadas ou no número de visitantes, a Expodireto Cotrijal de 2024 superou as expectativas dos próprios organizadores. Os R$ 7,9 bilhões e as 377 mil pessoas representam novas marcas históricas e um crescimento sobre a edição passada. Quando a feira realizada em Não-Me-Toque começou, a avaliação era de que repetir os mesmos resultados de 2023 já seria um excelente resultado. Não era falta de otimismo ou de ambição. Era uma visão alinhada com o mercado.
A indústria de máquinas e implementos agrícolas vem em ritmo de desaceleração. Fechou o último ano com mais de 13% de queda na comercialização, ritmo que seguiu em recuo no início de 2024. E que reflete fatores como a desvalorização de commodities, taxas de juro consideradas elevadas e um estoque elevado. Por isso, repetir a cifra era considerado um excelente negócio. Mas a feira chegou ao fim com um incremento de 12,48% nos negócios. Como isso foi possível?
— Eu fiquei entusiasmado pelo número de visitantes. Venda é momento, e quanto mais pessoas chegam aos nossos estandes, mais possibilidades de negócios existem. O segundo fato é que, no ano passado, estávamos atravessando uma seca. O preço das commodities era maravilhoso, mas o nosso produtor não tinha soja, não tinha milho — pondera Claudio Bier, presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas do RS (Simers).
Neste ano, apesar dos valores menos atrativos das commodities (com algumas exceções), a safra gaúcha promete ser volumosa, argumenta o dirigente. E se na feira o resultado foi recorde, entre as empresas há variações de performance. As que têm maior ligação com a cultura do arroz, por exemplo, com cotações mais valorizadas do que na safra passada, tiveram uma maior procura.
No balanço divulgado pela Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas (Abimaq), as associados apontaram uma redução de 17% nas intenções de compra em relação à feira do ano passado. Número que, segundo Pedro Estevão Bastos, presidente da Câmara, está "em linha com as expectativas atuais de mercado".
Vale lembrar que, no país, o quadro é diferente do RS. Regiões importantes de produção tiveram perdas em razão da seca. E isso, somado ao juro e ao esgotamento dos recursos do Plano Safra, explica a redução de 33% mapeada pela Abimaq nas vendas do mês de janeiro. A entidade reforçou, no entanto, que a exposição foi uma "excepcional oportunidade para as empresas demonstrarem os produtos, além de comercializar ou iniciar negócios".
Para o presidente da Expodireto, Nei César Mânica, a atmosfera positiva, após dois anos consecutivos de estiagem, teve um papel importante nos números da feira:
— O astral do produtor, para nós, estava fantástico.
Outro grande destaque veio com o público. Nesse quesito, pesou bastante o ponto fora da curva registrado na terça-feira (5), quando 135,5 mil pessoas passaram pela Expodireto. Além das atrações usuais, como tecnologia e debates importantes, a presença no evento-presidente Jair Bolsonaro fez com que uma multidão fosse até o parque.
A chuva marcou presença no primeiro e no último dia de feira, mas o sol e o calor também deram o ar da graça. Com um público maior, cresceram também os negócios no pavilhão da agricultura familiar, que somaram R$ 3,13 milhões, alta de 13,17% sobre 2023. Na agroindústria Estrelat, foi preciso repor estoques para dar conta da demanda. E as vendas fecharam quase 50% acima das da edição passada.