Há safras diferentes em curso no Brasil, conforme mostram os dados do atual ciclo. A nacional traz uma redução no volume a ser colhido, depois de recordes sobre recordes. A estadual, apesar dos percalços trazidos pelo excesso de chuva no plantio, promete ser de recuperação, após dois anos consecutivos de perdas provocadas pela estiagem. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projeta em seu quinto levantamento do ciclo 2023/2024 uma colheita de 40,83 milhões de toneladas para o total de grãos Rio Grande do Sul, o que representa uma alta de 38% sobre a produção anterior. Em contrapartida, prevê um recuo de 6,3% na produção brasileira, com 299,8 milhões de toneladas.
Resultado, conforme análise do órgão, do comportamento climático na principais regiões de produção que tem afetado principalmente soja e milho da primeira safra. Atrasos no plantio da oleaginosa também têm o potencial de afetar a "safrinha", ou segunda safra de milho, nas regiões onde é cultivada.
— A estimativa de excelente safra gaúcha está compensando a baixa prevista na safra brasileira de grãos, principalmente na soja, que tem uma estimativa de quebra de 3,4% no país — pontuou Edegar Pretto, presidente da Conab.
O IBGE projeta uma produção do Brasil de 303,4 milhões de toneladas, 3,8% a menos do que no ano passado. Guedes mencionou ainda a recuperação no RS, em razão da base de comparação, os anos anteriores prejudicados pela falta de chuva.
— Essa safra tem enfrentado problemas climáticos, tivemos excesso de chuva na Região Sul, que atrasou um pouco a implantação das lavouras. No Centro-Oeste, tivemos a falta de chuva, o que também atrasou a implantação das lavouras. Durante o desenvolvimento, tivemos altas temperaturas, com impacto negativo sobre as culturas, principalmente na soja — explicou Carlos Alfredo Guedes, gerente de agricultura do IBGE, que também divulgou novo levantamento nesta quinta.
Ainda que haja uma perspectiva de resgate no RS, após a sequência de estiagem, o clima adverso decorrente do fenômeno El Niño causou impacto em relação às estimativas iniciais. No milho, por exemplo, a produção não deve alcançar o que se esperava à época do plantio, apesar dos 44,2% de expansão na comparação com a safra passada, de acordo com Conab.
Na soja, a ampliação é ainda maior em igual comparação: 68,1%, com volume de 21,89 milhões de toneladas. Neste momento, a cultura, no entanto, está "pedindo água". Boletim semanal da Emater mostra que há indicativos de estresse hídrico que pode afetar o potencial produtivo. Um percentual de 23% das lavouras está em enchimento de grãos, etapa em que a chuva não pode faltar.