A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
A produção gaúcha de milho, outra importante cultura da safra de verão, não deve cumprir as expectativas iniciais projetadas para a safra. Assim como outros cultivos da época, o grão sofreu impactos devido ao excesso de umidade. O maior reflexo deve ser na quantidade produzida.
As primeiras projeções da Emater apontavam para 6 milhões de toneladas colhidas na safra 2023/2024. Mas a produtividade média do que já foi colhido está abaixo do esperado, o que deve reduzir o volume total previsto. Cerca de 30% da área plantada já foi colhida no Estado.
Depois de duas safras frustradas pela escassez de chuva, foi logo o excesso dela que pegou os produtores de surpresa, diz o presidente da Associação dos Produtores de Milho do Rio Grande do Sul (Apromilho-RS), Ricardo Meneghetti.
— O El Niño era a esperança de salvação da lavoura que tínhamos depois de tanta falta d’água, mas, no final das contas, ela veio em excesso. Foram muitos dias nublados e o produtor acabou se distraindo com a sanidade, deixando a plantação vulnerável ao surgimento de doenças que há muito tempo não apareciam — diz Meneghetti.
Justamente pelo quadro climático oposto ao que vinha ocorrendo com a estiagem, os produtores não tinham o costume de lidar com a bacteriose, por exemplo. O manejo, portanto, veio tarde demais. A doença, segundo o dirigente, se prolifera de maneira oportunista e vem causando problemas em diversas regiões produtoras.
O excesso de chuva pegou parte importante do período de polinização, afetando principalmente o milho “do cedo”. A falta de polinização e a entrada de fungos nas lavouras afetam as espigas, que se abrem e ficam mais vulneráveis à chuva, produzindo um grão de menor qualidade. Outros problemas folheares e a ocorrência de cigarrinha do milho pioram o quadro sanitário.
Segundo a Apromilho, regiões que costumam colher em média 150 sacas de milho por hectare estão colhendo entre 20 e 60 sacas, apenas. A entidade ainda não quantifica o tamanho do estrago porque o quadro varia entre as regiões, mas já tem certeza sobre a quebra na produção.
Além do impacto no Rio Grande do Sul, o Centro-Oeste do país também teve problemas com seca, atraso no plantio e desistência de produtores no plantio no milho segunda safra, o safrinha. Tudo isso deve afetar o fornecimento do grão e a logística para trazer o milho de mais longe.
Outra preocupação é em relação ao preço, que caiu pela metade. Segundo Meneghetti, a desvalorização tende a tornar a cultura menos atrativa entre os produtores:
— Os custos reduziram bastante, mas o preço final do milho também caiu. O meu medo não é nem quanto à produção do ano, mas com a desistência do produtor para as próximas safras — alerta Meneghetti.