Apesar de contabilizarem uma sequência de duas fortes estiagens, produtores do Rio Grande do Sul optaram em fazer a atual safra de verão "por conta e risco", ou seja, sem a contratação de seguro rural. A constatação vem do vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Elmar Konrad, que também é coordenador da Comissão de Política Agrícola, Seguro e Crédito Rural da entidade. E reflete um cenário recente em que a relação entre o valor a ser pago e a compensação, em caso de intempéries, ficou "inviável". Os custos subiram até 17%, ao passo que o nível de cobertura reduziu entre 30% e 40%.
— Neste ano (safra 2023/2024), quase ninguém fez porque ficou inviável. O custo é muito alto, e a cobertura, baixa. O produtor está por conta e risco, e isso é muito ruim. Se der uma quebra de safra, quebra o Estado — avalia o dirigente.
O encarecimento do seguro no RS, por sua vez, veio a reboque do histórico recente do Estado. Daniel Nascimento, vice-presidente da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), lembra que, nas últimas quatro safras, o Estado teve perdas em três (nas colheitas de 2020, 2022 e 2023). Com prejuízos expressivos causados à produção dos Estados que mais contratam, como RS, PR e MS, o pagamento de indenizações cresceu e provocou uma retração do mercado em 2023, em número de seguradoras e em oferta de seguro. Com a capacidade reduzida, as condições ficaram menos atrativas para o produtor.
— Em 2022/2023, as perdas climáticas se concretizaram no RS. Diante de três perdas, as seguradoras acabaram ficando mais retraídas ainda no Estado — completa Nascimento.
A oferta menor, o produto mais restritivo e o fim do La Niña, avalia o dirigente, fizeram com que muitos produtores preferissem tomar o risco no RS.
Outro ponto a ser considerado na equação do seguro rural é a subvenção do governo. Dados de 2023 que acabam de ser divulgados mostram que, com os cortes orçamentários, o valor destinado a essa finalidade encolheu no ano passado (veja gráfico). Número de produtores, de apólices e de área contemplada também caíram, no país e no RS.
Konrad avalia que, no atual cenário vivido no Estado, aumentar o subsídio "não adiantaria". Por ora, o custo em relação ao benefício limita o alcance da ferramenta.