Os protestos de agricultores seguem na Europa, chegando ao terceiro dia de estradas bloqueadas nesta quarta-feira (31) na França, ampliando a repercussão (e a pressão sobre os governos locais) para os pontos levantados na mobilização. A pauta vai além do pedido de (mais) proteção à produção agropecuária no bloco, reivindicação com grande potencial de frear o avanço do acordo da União Europeia com o Mercosul. Entre os problemas elencados pelos produtores estão as exigências ambientais — dentro da proposta do Green Deal ( o Acordo Verde do bloco, com metas para a redução nas emissões de gases de efeito estufa), e que estariam, junto com outros fatores, impactando a competitividade. A queda de receitas, as baixas aposentadorias e a burocracia administrativa também estão na lista.
O movimento dos europeus é acompanhado com atenção no Rio Grande do Sul. Para Domingos Velho Lopes, vice-presidente da Federação da Agricultura do RS (Farsul) e coordenador da Comissão de Meio Ambiente da entidade, as manifestações, iniciadas na Alemanha e que foram se disseminando para outros países do bloco, trazem "dois vieses muito fortes". Um, o da pauta ambiental.
— É um alerta para o mundo. Estão vendo que a restrição ambiental está fazendo com que percam cada vez mais competitividade. Mesmo com subsídio, estão se tornando inviáveis economicamente. É o exagero na pauta ambiental, que não consegue visualizar o desenvolvimento sustentável, ou seja, que preserve o meio ambiente, mas mantendo o setor produtivo ativo e viável — avalia Domingos.
O outro ponto de atenção é justamente o acordo UE-Mercosul, motivo de preocupação mútua, por razões diferentes. Para o Brasil, o princípio de precaução, que permite a imposição de barreiras para a compra de produtos diante da suspeita de que sejam provenientes de áreas de desmatamento, é visto com atenção.
— O problema de desmatamento e das queimadas na Amazônia existe e temos de atacá-lo, mas pela cláusula de precaução, isso inviabiliza outros cinco biomas do Brasil em razão desse problema. Perdemos a possibilidade de exportar nossos produtos sem eles perderem a possibilidade de exportarem carro, tecnologia para nós — acrescenta o vice-presidente da Farsul.
Para os europeus, o acordo traz "para dentro do bloco" uma concorrência difícil de ser batida. O Brasil é uma potência agrícola, com produtividade crescente. Uma reunião do presidente francês Emmanuel Macron com a presidente da comissão europeia, Ursula von der Leyen, para tratar das reivindicações dos agricultores está prevista para essa quinta-feira (1).