O que já era incerto se tornou ainda mais nebuloso: os protestos de produtores rurais na França têm réplicas na Espanha e haviam sido antecedidos por mobilizações na Alemanha. Além da insatisfação com políticas públicas locais, há outro alvo: o acordo entre a União Europeia e o Mercosul.
E não há sinal de desistência: sindicatos rurais espanhóis ameaça manter atos regionais "nas próximas semanas" se as negociações com o Mercosul não forem suspensas. Em parte, a mobilização é parte da disputa eleitoral ao Parlamento Europeu, que culmina em junho.
O foco da onda de protestos está nas normas de produção na Europa e de importações de países de fora do bloco - já bastante rígidas -, às quais são atribuídas queda de receita e perda de competitividade.
O cenário da economia na União Europeia é de estagnação. Por um triz, o bloco conseguiu evitar a caracterização de recessão técnica - dois trimestres seguidos de queda no PIB. No quarto trimestre de 2023, o PIB da zona do euro (grupo de países que adota a moeda comum) foi de 0,1%. Mal se mexeu, mas se manteve com sinal positivo.
Na vida real, os sinais fazem pouca diferença e os produtores rurais sentem o efeito da desaceleração econômica interna. Como é mais fácil buscar culpados em outras latitudes - na Europa e no resto do mundo -, sobrou para o Mercosul.
Com Paris sob cerco, o presidente da França, Emmanuel Macron, que já havia se manifestado contra o fechamento do acordo, reiterou a posição. Às vésperas de uma reunião com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que as regras de produção agropecuária no Mercosul "não são homogêneas".
É fato. Mas, até agora, esse não era dilema nas negociações. É a nova desculpa para manter o acordo no eterno banho-maria que ora esquenta, ora esfria, desde 1999. Com o Uruguai pressionando por um acordo com a China, o acordo com os europeus era uma tentativa de recuperar o interesse dos sócios do bloco latino. Como não há possibilidade concreta no horizonte, também cresce a ameça de um "adiós, Mercosur".