A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
A JBS assinou nesta terça-feira (21) um protocolo de intenções com o governo do Estado para a compra de um frigorífico da Cooperativa Languiru, que está em liquidação extrajudicial. Esse é o primeiro passo para a Seara, marca da empresa, assumir a operação da planta de suínos localizada no município de Poço das Antas, no Vale do Taquari. Nos próximos dias, a JBS deve se reunir com a Languiru para o processo de diligência. Finalizada essa etapa, a expectativa da empresa é de que em até 90 dias as atividades na unidade possam ser retomadas.
O protocolo de intenções assinado envolve uma medida tributária que foi protocolada como projeto de lei em regime de urgência na semana passada na Assembleia Legislativa pelo governo do Estado. A medida busca garantir a possibilidade de transferência de saldos de crédito do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) acumulados pelo diferimento do imposto estadual pela JBS. Em outras palavras, é a possibilidade de creditar uma parcela do investimento com o que já foi pago de ICMS anteriormente. A expectativa é de que a medida seja votada (e aprovada) ainda neste ano.
— É uma forma de poder garantir uma redução dos custos tributários para a indústria e viabilizar economicamente essa operação — salienta o governador Eduardo Leite, acrescentando que outros setores também poderão ser beneficiados com a aprovação desse PL.
Do total do investimento de R$ 200 milhões — R$ 80 milhões para a compra da unidade e R$ 120 milhões para a sua reestruturação —, cerca de R$ 50 milhões devem vir desse saldo de crédito de ICMS da JBS. No protocolo de intenções, há ainda a possibilidade de mais R$ 50 milhões serem investidos em outras unidades da cooperativa no Estado pela empresa. Os R$ 250 milhões tem até 31 de dezembro de 2028 para serem investidos.
No caso dos R$ 80 milhões a Languiru, parte do montante será injetado nas operações remanescentes da cooperativa.
— Se eu vender só um ativo e querer pagar a dívida não vou conseguir (garantir a sustentabilidade do negócio). Eu tenho que fazer as operações da Languiru se tornarem viáveis, para então fazer o enfrentamento da dívida da cooperativa — justificou Paulo Birck, presidente e liquidante da Languiru, acrescentando que o plano de pagamento da dívida deve ser apresentado até março do ano que vem.
Com capacidade de abate de 1,7 mil suínos por dia, o frigorífico está atualmente parado — a operação foi descontinuada em 30 de junho. Com problemas financeiros, a Languiru aprovou com os associados a liquidação extrajudicial em 18 de julho. O mecanismo é a ação possível dentro da legislação do setor cooperativista e busca reequilibrar as contas. Pela proposta da JBS, a operação será retomada com o processamento de 1,2 mil suínos por dia, 400 vagas de trabalho abertas e a possibilidade de reinserção dos 300 produtores da região associados à cooperativa. A Languiru fornecerá toda a ração para os suínos, a partir da sua fábrica em Estrela. E, na planta, a empresa estima um potencial que chega a um volume diário de 3,4 mil suínos.
No Estado, a empresa soma mais de 17 mil trabalhadores em 22 unidades, entre fábricas, centros de distribuição e granjas das unidades de negócios Seara, Excelsior e JBS Couros.
Impasse
O frigorífico de Poço das Antas também é alvo de interesse da Cooperativa dos Suinocultores dos Vales (Coosuval), formada por cooperativados da Languiru descontinuados da unidade. Eles protocolaram ação na Justiça para que tenham preferência na aquisição da planta. E encaminharam também um carta de intenção de compra à Languiru.
Sobre a possibilidade dessa ação interromper a atual negociação, o CEO da Seara Alimentos, João Campos, declarou à coluna:
— Isso faz parte de um processo de diligência, a gente analisa tudo, tanto interna quanto externamente, para a conclusão do negócio.
Quando a Languiru apresentar a proposta aos associados, a ideia, segundo Birck, é reunir também os associados da Coosuval, que produzem leitões. Ainda em relação à carta de intenção da cooperativa, o presidente também se manifestou:
— A gente nunca excluiu ninguém. Mas temos de trazer para a região segurança, a solidez de uma empresa que tenha porte para fazer frente aos desafios que as cadeias da proteína animal ainda apresentam.