A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
A suspensão russa do acordo de grãos com a Ucrânia volta a construir uma barreira ao corredor de trigo e milho que virou o Mar Negro durante a guerra no Leste Europeu. E o efeito deve ser dominó. Além dos impactos sócio-econômicos que poderão afetar o país ucraniano nas próximas semanas, que é um dos principais exportadores de commodities no mundo, o fardo também recairá sobre o restante do globo, no bolso.
Para consultores brasileiros em agronegócio, é a disparada no preço de grãos, principalmente trigo e milho, uma das principais consequências da medida anunciada nesta segunda-feira (17) pelo Kremlin.
— O mercado global de trigo está mais apertado que o de milho e, portanto, é mais sensível e propenso a aumentos de preços, a desenvolvimentos negativos na oferta — diz Carlos Cogo, sócio-diretor de Consultoria da Cogo Inteligência em Agronegócio.
Para o economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Antônio da Luz, é difícil prever o que acontecerá:
— Quando não havia acordo, houve uma explosão de preço de trigo e milho no mercado internacional. Aumentou muito a desnutrição do mundo, que vinha em queda desde o ano 2000 — recorda.
Gerente sênior de relacionamento da HEDGEpoint Global Markets, Andrey Cirolini pondera ainda o tamanho do impacto:
— A Ucrânia tem vislumbrado outra janela, outras possibilidades logísticas, pela via terrestre e fluvial e pode utilizar isso também (para escoar sua produção).
O acordo de grãos foi negociado entre Rússia, Ucrânia, Turquia e ONU em julho do ano passado e renovado três vezes, depois que a guerra interrompeu as exportações de commodities pelo Mar Negro e levou a um aumento nos preços globais dos alimentos. Nesta segunda-feira, quando a Rússia anunciou a sua retirada do acordo, o mesmo país informou que poderá retomar o pacto se suas exigências forem atendidas. Na avaliação de Cogo, há uma tentativa de moeda de troca:
— A Rússia está pedindo que sejam facilitadas as suas exportações de fertilizantes e de alimentos.
O acordo permitiu que 36,2 milhões de toneladas de alimentos fossem exportados da Ucrânia desde agosto passado, disse Cogo. Ainda assim, a produção de grãos da Ucrânia caiu de uma média de 91,5 milhões de toneladas antes da guerra, para 69,2 milhões de toneladas (projeção para a safra 2023/2024).
A expectativa do governo ucraniano é de que negociações sejam feitas nos próximos dias, entre julho e agosto.