Os efeitos da guerra no Leste Europeu, voltaram a aparecer nas cotações de trigo na Bolsa de Chicago, nos Estados Unidos, referência global para produtos agrícolas. Todos os contratos fecharam com alta nesta segunda-feira (10), entre 6,56% (vencimento em dezembro de 2022) e 4,88% (vencimento em julho de 2023), com o maior valor do bushel ficando em US$ 9,56 (vencimento em maio de 2023). O movimento é visto como uma "precificação" do recrudescimento do conflito Rússia-Ucrânia, com o lançamento de mísseis russos em resposta à ação no estreito de Kerch, há dois dias.
Na prática, o episódio voltou a elevar o tom de preocupação e as ameaças do Kremlin, o que igualmente lança dúvidas sobre o fornecimento do cereal que tem nos dois países grandes produtores e exportadores globais. Analista da Safras & Mercado, Élcio Bento lembra que, em setembro, dois movimentos de avanço das cotações — no dia 9 e no dia 20 — foram registrados quando houve ameaças de uso de armas nucleares:
— Em função do recrudescimento da tensão. Sempre que isso acontece, o mercado reage.
Neste momento, a reação nas cotações internacionais do trigo, a partir do endurecimento da guerra, reforça a preocupação com pelo menos três questões que pesam sobre o fornecimento. O primeiro seria uma eventual suspensão do corredor de grãos ucraniano, por onde tem sido exportada a produção. O segundo, a não renovação do acordo que permitiu a criação desse canal e vence em novembro.
— Se esse clima tenso leva a uma não exportação, os compradores terão de buscar alternativas — pontua Bento.
A eventual alteração de fornecedores tem reflexos sobre demanda e oferta. Um terceiro ponto que emerge é o da safra que está sendo plantada na Ucrânia e que vinha em compasso de atraso. O cenário de aprofundamento da guerra pode impedir a conclusão da semeadura. E afetar ainda mais a produção.
E para o RS, qual o efeito?
Em plena colheita de trigo, o Rio Grande do Sul acompanha com atenção as variações das cotações em Chicago, mas também outros fatores que impactam no preço em reais, como a relação do real frente ao dólar. Ingrediente de valorização do produto gaúcho também poderá vir de uma demanda interna. O analista da Safras & Mercado explica que o excesso de chuva no Paraná tem prejudicado a qualidade e poderá fazer com que os moinhos venham buscar no Estado a matéria-prima.