
O ataque ao porto ucraniano de Odessa repercutiu também no mercado agrícola. A ação, que veio um dia depois do acordo para a retomada das exportações, voltou a minar a confiança na execução do trato. E essa incerteza se traduziu, em um reflexo imediato, em alta nos valores de trigo na Bolsa de Chicago. Na segunda-feira (25), os contratos com vencimento para setembro ficaram em US$ 7,70 o bushel (medida equivalente a 27,2 quilos), alta de 1,45% sobre o fechamento anterior, ajudando a recuperar parte da perda. A volatilidade tem sido puxada por questões pontuais. Como o bombardeio, que expõe eventuais riscos em realizar embarques de grãos.
– Uma coisa é fazer o acordo, outra é efetivamente operacionalizar. Traders entendem que o acordo é baixista, mas existe um coeficiente de “pagar para ver” – diz Índio Brasil dos Santos, sócio-diretor da Solo Corretora.
Entre os itens que pesam na balança para viabilizar na prática o acordo estão a capacidade (a guerra traz inúmeros problemas de infraestrutura) e a segurança para o carregamento.
O custo do frete e a qualidade do produto armazenado são outras questões consideradas.
O analista Élcio Bento, da Safras & Mercado reforça que deve levar algum tempo até que traders ganhem confiança de que a Ucrânia realmente pode exportar. E acrescenta que foram vistas ofertas, a maioria, para o final de agosto.
Apesar do vaivém recente, especialistas não veem espaço para alterações bruscas – para mais ou para menos. Há ingredientes conjunturais que embasam a percepção de que os preços devem se acomodar na faixa entre US$ 7,50 e US$ 8. Como já mencionado anteriormente, esse é um patamar acima da média histórica para o grão. Bento observa que, mesmo com a possibilidade de venda da Ucrânia, a safra e os excedentes serão menores.
– Como pano de fundo, há um aperto na oferta global, que garante preços. Hoje, o trigo está 17% mais caro do que há um ano atrás – acrescenta o sócio-diretor da Solo.
Em pleno plantio de safra, o produtor de trigo do Estado monitora a situação. Já há vendas antecipadas de trigo – em negócios feitos, seriam 470 mil toneladas, de um total estimado em 3,99 milhões de toneladas. Mas, depois da frustração com a colheita de verão, o agricultor, observa Santos, tem sido cauteloso.