A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
A preocupação com o avanço nas importações de leite, que cresceram quase 300% na primeira metade do ano, tem ampliado as queixas do setor leiteiro gaúcho.
O tema esteve na pauta de uma série de agendas ontem, em Brasília, para discutir com o ministro da Agricultura, Carlos Fávero, medidas de apoio aos produtores em diversas áreas. No que se refere ao leite, a demanda é por ações de que tornem o produto gaúcho mais competitivo frente à produção vizinha da Argentina e do Uruguai. Fatores como a valorização do real e a queda nos preços do leite no Mercosul estão aumentando as importações, principalmente do Rio Grande do Sul, em razão da logística.
— Ou o governo dá uma segurada nas importações e eleva a taxa (a Tarifa Externa Comum), ou tem que subsidiar os produtores, como Argentina e Uruguai estão fazendo — defende o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS), Carlos Joel da Silva, que participa dos pleitos na capital federal, mediados pelo presidente da Frente Parlamentar da Agricultura Familiar, o deputado Heitor Schuch.
O volume importado de leite e de produtos lácteos como leite em pó somou quase 116 mil toneladas no primeiro semestre, de acordo com dados da plataforma ComexStat. São negócios que se dão por questão de oportunidade, explica o secretário executivo do Sindicato das Indústrias de Laticínios do RS (Sindilat), Darlan Palharini, já que, diante dos custos, ficou mais em conta importar do que produzir.
Joel lembra que o aumento das importações se soma a dificuldades que não são de hoje, como a redução de produtores na atividade, o que agrava a situação da cadeia produtiva:
— O leite é um eterno problema e vem se agravando com essa questão do Mercosul. Estivemos em municípios do Noroeste e vimos produtores desesperados. Se não sair algo novo, vamos estar mobilizando os produtores para protestar nas divisas com os países.
O leite em pó (usado como ingrediente para a indústria de panificação e de chocolates) e o queijo parmesão (vendido na gôndola dos supermercados) são os principais itens importados. Na avaliação do Sindilat, bloquear os negócios externos não é opção viável. Sobretudo pelas represálias que poderia gerar a outros produtos brasileiros que tem balança comercial favorável com esses países.
— Não é tão simples apenas bloquear as importações. Vejo isso com dificuldade porque poderia gerar impacto em outros produtos nossos, um efeito reverso — diz Palharini.
O setor entende que deveria haver uma equivalência dos benefícios concedidos, de modo a compensar os produtores locais. Senão por subsídio direto, por medidas alternativas como refinanciamento de dívidas, como tem acontecido com os uruguaios, ou por incentivo, como aumento de isenção para compra de equipamentos feitos no Brasil.
Para os próximos meses, a expectativa é de queda nos preços do leite ao produtor, o que reduziria as importações. Mas ainda não seria suficiente para conter as dificuldades:
— Mesmo com possível baixa, é evidente que o prejuízo está sacramentado. A situação não permite negar ajuda porque o setor está em crise — diz Palharini, acrescentando preocupação com os efeitos em cascata, como fechamento de laticínios e redução da atividade.