A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Contrariando os prognósticos para um ano que foi de quebra na produção, as exportações gaúchas do agronegócio em 2022 alcançaram o maior valor nominal desde o início da série histórica, há 25 anos. A explicação, que não vem do volume embarcado, fica na conta dos preços.
Conforme o boletim Indicadores do Agronegócio do RS, elaborado pelo Departamento de Economia e Estatística (DEE) da Secretaria de Planejamento, enquanto o volume total embarcado encolheu 15,5% no ano, as vendas ao Exterior somaram US$ 16 bilhões em 2022, aumento de 4,4% em relação ao ano anterior.
— É um resultado surpreendente, principalmente pela quebra na soja. Pesou para isso os resultados do 1º e do 4º trimestres — dá a pista o economista e pesquisador do DEE, Sérgio Leusin Júnior.
Isso porque nos primeiros três meses do ano, o Rio Grande do Sul aumentou a sua participação no comércio internacional de venda de trigo, embalado por uma safra que havia sido recorde em 2021 e pela guerra entre Rússia e Ucrânia, que realinhou posições mercantis. Também contribuiu para o resultado a comercialização dos estoques da safra de soja colhida no ano anterior. O crescimento no trimestre foi de 72%.
Superados os dois trimestres seguintes de queda, impactados pelo calendário da soja, as vendas voltaram a surpreender na reta final do ano. As exportações de outubro a dezembro pegaram embalo e fecharam o 4º trimestre com alta de 14,9% e um novo recorde nominal para o período: US$ 4,4 bilhões em vendas.
O desempenho foi puxado pelos embarques de fumo (+77,9%), cereais (+149,7%) e carnes (+18%). No fumo, o resultado alcançado foi o melhor desde 2013 e não deixa de ser surpreendente, salienta Leusin, já que a cultura também sofreu perdas pela estiagem.
O complexo da soja foi o único dos cinco principais setores exportadores a registrar queda no ano — uma redução de 29,3% na comparação com 2021. O pesquisador lembra que, ainda que os demais setores tenham renovado volumes, o pano de fundo que explica as altas é o mesmo e vem de uma inflação elevada das commodities no cenário internacional.
— Os preços em 2022, conforme divulga o Banco Central, renovaram recorde e atingiram o maior valor real da história para a soja, superando o último ciclo de alta, que foi em 2012/2013. Mostra que talvez se tenha chegado no teto — exemplifica Leusin.
Para 2023, ainda que não seja possível prever como se comportarão as exportações diante de uma nova quebra que se desenha, acredita-se que os preços devam permanecer em patamares elevados, mas sem novos picos expressivos.
— É melhor torcer pelas chuvas em fevereiro do que esperar por novos aumentos de preço — diz o economista.