No ano em que a quebra da safra de verão marcará de forma negativa os resultados das exportações do agronegócio do Rio Grande do Sul, é uma cultura de inverno que ganha destaque. No primeiro semestre de 2022, os embarques de trigo alcançaram a marca de 2,37 milhões de toneladas embarcadas, volume 318% superior ao comercializado em igual período de 2021, aponta o relatório de Comércio Exterior do Agronegócio, divulgado pela Federação da Agricultura do Estado (Farsul) nesta quarta-feira (13/7). Em receita, o avanço foi de 495%.
E se a relação com os efeitos da guerra Rússia-Ucrânia existe, maior e quarto maior exportador mundial de trigo, existe, ele não resume esse desempenho fora da curva. Analista de Relações Internacionais da Farsul, Renan Hein dos Santos sustenta, com base na quantidade embarcada antes da invasão acontecer, no final de fevereiro, que o resultado decorre de outros fatores, como safra recorde e de qualidade colhida em 2021 no RS:
— Os indicadores já vinham muito bem antes. Isso mostra que o mundo tem apetite por esse trigo. O conflito pesou, mas esse indicador de exportações em alta não é uma coisa passageira.
Somada à perspectiva de ampliação da colheita de inverno, materializada na proposta do programa Duas Safras, há um terreno fértil para a manutenção e, quem sabe, até a superação desse patamar de embarques. Guillermo Dawsin, diretor-superintendente da CCGL, à frente dos terminais Termasa e Tergrasa, no porto de Rio Grande, conta que já há 700 mil toneladas negociadas de forma antecipada para o mês de novembro, quando o trigo estará sendo colhido.
— O trigo já tinha acessado mercados, apresentado o cartão de visitas. E foi tão bom o cartão da safra 21/22 que dificilmente não bateremos novamente o recorde neste ano. Exportamos para novos países um produto de qualidade — observa Dawson.
O dirigente entende que o caminho começou a ser trilhado lá atrás. A partir de 2003, começaram a ser feitos embarques, dando uma constância. O que mudou foi a geografia das exportações. Se antes a região do Mediterrâneo era parada, agora o mapa vai mais além, alcançando o Oriente Médio e a Ásia:
— Neste ano, aumentamos o número de clientes.
Outro fator considerado positivo para a continuidade das exportações de trigo é o logístico. Quando a safra do cereal entra, há poucos produtos para movimentar, e sem a "concorrência" do carro-chefe da pauta externa, a soja.
No resultado geral das exportações do agro, junho fechou com queda de 16% no valor exportado, que passou de US$ 1,4 bilhão em junho 21 para US$ 1,2 bilhão em junho deste ano. Em volume, a retração foi de 2,3 milhões de toneladas para 1,3 milhão de toneladas em igual comparação.
— Era esperado que acontecesse. Primeiro, houve uma estiagem que diminuiu a oferta do produto. E há um fato que nos preocupa mais, que são os lockdowns na China — completa o analista de Relações Internacionais da Farsul.