Mesmo que venha a ser interrompida, a estiagem registrada no Rio Grande do Sul seguirá causando impactos na produção de um do principais produtos gaúchos: a carne bovina. Esse efeito prolongado tem relação com o ciclo da atividade, maior do que o das lavouras. Na produção de grãos, findada uma safra, já é tempo de preparar a próxima, com pelo menos duas oportunidades de colheita ao longo do ano. Na pecuária de corte, só a gestação das vacas dura nove e meio meses.
Neste momento, a falta de chuva causa uma dificuldade de alimentação (em quantidade e qualidade ) e de hidratação dos animais. O pasto está seco e as fontes de água vão minguando. Cenário que faz com muitos produtores apressarem a venda do gado para os frigoríficos. Se o animal estiver pronto, é negociado, mesmo que não seja o melhor momento para isso, em razão da oferta reduzida de comida e água.
— Alguns produtores estão tentando o confinamento, mas o custo (para a compra da ração) tem tornado inviável — pontua Luis Felipe Barros, presidente do Instituto Desenvolve Pecuária.
Doutor em Produção Animal e consultor da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), José Fernando Piva Lobato explica que a pouca disponibilidade e a qualidade da água e do pasto trazem um efeito direto no desempenho dos animais. Uma vaca, por exemplo, bebe em média cerca de 50 litros de água por dia.
— O tempo seco está afetando os pecuaristas do Estado (são, em números arredondados, 294 mil), de diferentes tamanhos. E temos de ter solução para todos — ressalta Lobato.
Criador em São Gabriel, na Fronteira Oeste, Alex Silveira conta que alguns bebedouros para os animais secaram e outros estão secando. Na localidade, a última chuva veio há 14 dias. No mês de dezembro passado, choveu 27 milímetros.
Situação que se repete em Santiago, onde a Emater estima redução de 17% no ganho de peso dos animais. Veja abaixo outras consequências.
Outros efeitos
A estiagem também traz potenciais efeitos sobre o ciclo reprodutivo: na taxa de prenhez das fêmeas, no atraso na concepção e no nascimento, na formação fetal, no peso de desmame (no próximo outono), etc. Fatores que influenciarão a oferta futura de animais.