A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Iguarias das mais diversas variedades, mas com o ponto comum de serem sabores característicos do RS, foram reconhecidas em uma publicação inédita do Sebrae-RS lançada neste mês. Do vinho aos embutidos, a lista de 50 produtos faz parte do Guia de Sabores Únicos do Rio Grande do Sul, um verdadeiro resgate da cultura e da diversidade de sabores aqui produzidos, principalmente pelas agroindústrias.
Os produtos foram enquadrados em quatro grandes categorias, alguns deles se incluindo em mais de uma delas: tradicional colonial, típico regional, artesanal e inovador. Responsável pelo projeto e especialista em alimentos e bebidas do Sebrae-RS, Roger Klafke conta que a escolha passou por um crivo minucioso de produtos habilitados com registros e que tivessem alguma relação com o Sebrae.
O resultado do diagnóstico dos negócios, que também está sendo feito nacionalmente em outros Estados, mostrou a força do produto regional e diferenciado.
— As agroindústrias viram a importância de se profissionalizar, de ter um rótulo, de agregar elementos regionais e de incluir a pegada da inovação. Foi um desafio chegar em 50, eram todas opções muito boas. Mostra que o RS tem produtos de alto valor agregado — diz Klafke.
Dentre tantas delícias, a coluna teve a difícil tarefa de selecionar alguns produtos. Abaixo, conheça quatro inovações do RS e confira a lista completa dos 50 selecionados clicando aqui:
Técnica internacional para receita familiar
A cuca congelada que preserva uma receita de família sem perder o frescor da massa recém tirada do forno foi o grande acerto da engenheira de alimentos Marla Kappaun ao criar o Da Vó Ateliê de Cucas, em Porto Alegre. A família achou “uma loucura” quando o método foi desenvolvido, conta Marla, mas deu tão certo que virou referência por reunir tradição e inovação.
— Busquei inspiração na minha história, algo que fazia sentido para mim e que vai muito além de uma fonte de renda. Quero deixar uma marca e isso vai em tudo, do cuidado com a matéria-prima ao processo. É um desafio colocar a cuca congelada no mercado, mas por ser algo diferente, chama atenção — diz Marla.
A técnica trazida da Alemanha permite que as cucas sejam vendidas com prazo de validade maior, sem perderem as características no momento de aquecer (elas já vêm assadas) e de consumir. São mais de dez sabores de cucas no cardápio, com destaque para a de doce de leite.
Erva-mate além da cuia
O amor, primeiro por um gaúcho e depois pela erva-mate, foi ingrediente essencial para transformar uma cultura que é marca do Rio Grande do Sul em produto que dá outro alcance às nossas origens. Foi assim que a geógrafa carioca Ariana Maia criou a Inovamate, em Ilópolis, no Vale do Taquari, junto com o marido Clóvis Roman, que tinha os ervais.
Usando a planta como base, a empresa desenvolveu chás com mate verde e mate tostado, além de mesclas para infusões. O destaque no guia é o Chá Matequero Região Sul, que combina erva-mate, maçã e uva-passa desidratadas e canela moída. O produto faz parte de linha que representam as cinco regiões do Brasil.
— Pouca gente sabe que a erva-mate pode sair da cuia, e a inovação começa aí. Queremos mostrar isso para o restante do Brasil em forma de chá. Temos uma bebida saudável, pautada em pesquisa, que traz bem-estar e que fala da biodiversidade. Apresentando a planta de forma mais popular, abrimos para divulgar a nossa cultura — diz Ariana.
Inspiração hermana para produto local
Para um fã assumido do doce, retratar o autêntico doce de leite uruguaio e argentino em um produto que fosse, ao mesmo tempo, uma iguaria gaúcha regional não foi tarefa simples para o produtor Arthur Bordignon Filho. Com persistência e paladar exigente, ele criou o Pala do Sul, eleito em 2022 o melhor doce de leite do Rio Grande do Sul em concurso estadual.
— Como sou de Uruguaiana e faço fronteira com Argentina e Uruguai, desde pequeno consumo o produto deles aqui do lado do rio e resolvi fazer o meu próprio doce inspirado nos hermanos. O grande controle de qualidade sou eu, que sou muito chato! Até chegar num ponto que eu gostasse, não sosseguei — diverte-se Bordignon.
O nome do produto, Pala, faz referência à veste típica do gaúcho e se tornou um atrativo regional. Além do doce de leite tradicional, a marca possui outros sabores combinados com flor de sal e nibs de cacau.
Do grão-de-bico à inovação na indústria alimentícia
Foi do parque tecnológico da Unisinos, o Tecnosinos, que saiu uma das ideias mais inovadoras para o mercado da indústria de alimentos atual. Usando como base o grão-de-bico, a Faba Alimentos, de São Leopoldo, desenvolveu a MayOh!, a primeira maionese natural e vegetal comercializada no Brasil.
A maionese é feita com a água de cozimento do grão-de-bico, a aquafaba, que substitui o ovo. O resultado da receita é um rótulo sem ingredientes “de nomes difíceis e artificiais”, descrevem os criadores.
— É um produto indulgente, ou seja, tem textura, aroma e sabor, elementos que remetem à afetividade. É um produto de rótulo limpo, com uma receita caseira e validade generosa, que além de tudo agrega valor ao grão. A tecnologia tem que fazer o produto ser inclusivo. — diz Rodrigo Kayser Schwerner, proprietário da Faba com o sócio Frederico Hofstatter.
A empresa ampliou o portfólio desde o lançamento da maionese vegana, lançando também um ketchup crocante, com farinha de grão de bico, e um creme doce de grão-de-bico com cacau.