Depois de apresentar o que o Uruguai pode contribuir com a olivicultura do Rio Grande do Sul pela perspectiva gaúcha, a coluna agora conversa com o presidente da Associação de Olivicultura Uruguaia (Asolur, em espanhol), Gonzalo Aguirre, para trazer a visão do outro lado da fronteira.
O dirigente participou do 5º Encontro Estadual de Olivicultura, realizado pela Secretaria da Agricultura na semana passada. Foi a primeira vez que o Uruguai participou do evento no Estado.
Na entrevista, além do tradicional churrasco nos pampas, Aguirre menciona técnicas de manejo em olivais e relações comerciais parecidas como semelhanças que o Estado mais ao Sul do Brasil e o Uruguai compartilham. Mas falou também de diferenças, como o comportamento da população quando o assunto é consumo de azeite local.
Confira trechos:
Como o Uruguai pode contribuir para a olivicultura gaúcha?
O Uruguai já tem 20 anos de olivicultura. E, historicamente, temos tido muito intercâmbio com o Rio Grande do Sul, pelas faculdades de Agronomia, de Química e pela Embrapa. Hoje em dia, está se controlando melhor a alternância de produção, aprendendo a melhorar a poda, a manejar melhor o clima úmido. Há muitas técnicas de manejo que estão sendo feitas no Uruguai e que o Rio Grande do Sul está aderindo. Temos climas e terras semelhantes. Essa é a grande vantagem.
Quais são as relações comerciais entre o Uruguai e o Rio Grande do Sul neste mercado?
O Brasil é um mercado interessante para o Uruguai importar azeite de oliva. Porque por mais que o Uruguai hoje em dia consuma 0,5 litro de azeite per capita, o azeite que é consumido é diferenciado. Quer dizer, o uruguaio não está consumindo mais azeite, mas sim melhor azeite. É uma troca qualitativa. O mesmo acontece do lado oposto. O azeite de oliva uruguaio tem boa imagem no Rio Grande do Sul. Muitos compram em free shops na fronteira.
Como está a olivicultura uruguaia?
Atualmente, o Uruguai tem 7 mil hectares com olivais e cerca de 200 produtores. Na última safra, tivemos uma produção ao redor de 15 milhões de quilos de azeitonas, o que equivale a aproximadamente 1,5 milhão de litros de azeite de oliva. Além disso, hoje se pode dizer que no Uruguai 40% do consumo de azeite de oliva é de produto local. Creio que as pessoas estão cada vez mais apreciando o produto, pela sua qualidade. E isso não tem volta. Quando se reconhece e se aprecia a qualidade, a pessoa já não quer mais provar os azeites de outros países. Aí está um pouco da resposta. E não tenho dúvida que esses 40% crescerão.
Há algo que precisa ser trabalhado na olivicultura do país e do Estado?
Há muito o que se fazer ainda. Para aumentar o consumo de azeite de oliva, por exemplo, é preciso que o consumidor reconheça essa qualidade. É preciso trabalhar muito em educação, cursos, divulgar de uma melhor maneira essa qualidade que está se produzindo. Educação, educação e mais educação. Tanto o Uruguai quanto o Rio Grande. O que o Uruguai tem que fazer também é controlar a importação de azeites estrangeiros, porque os azeites importados, na sua maioria, não cumprem requisitos para serem produzidos.
*Colaborou Carolina Pastl