Uma pele artificial para o tratamento de queimaduras com custo 50 vezes inferior ao da opção hoje utilizada é apenas um dos novos usos que vêm sendo testados nos laboratórios para a matéria-prima que vem das florestas plantadas. E impressionou o presidente da Associação Gaúcha de Empresas Florestais (Ageflor), Luiz Augusto Alves, em visita à unidade paranaense da Embrapa dedicada à cultura. O dirigente entende que o portfólio de produtos deverá crescer, ampliando as aplicações do setor hoje, puxado por celulose, móveis e cavacos de madeira, entre outros. E pode ajudar a fomentar o avanço da silvicultura, que ocupa 935 mil hectares no Rio Grande do Sul e 9,6 milhões de hectares no Brasil, conforme dados apresentados pela entidade nesta quarta-feira (30), referente ao ano de 2021.
— É um segmento que nos próximos anos vai se desenvolver bastante — reforça Alves, em relação aos novos usos que vêm sendo pesquisados.
Outros, já no mercado, também se habilitam para ganhar mais espaço, como os pellets, usados como alternativa para a produção de energia (com a substituição do carvão pela biomassa) e que já vêm sendo exportados para a Europa pelo Estado. A fatia ainda é pequena, 1,4% do total embarcado pelo RS, mas o potencial, especialmente com a crise energética decorrente da guerra Rússia-Ucrânia, é enorme. No mercado externo, a celulose puxa a frente, com fatia de 52,9%.
— O Brasil é o principal exportador (de celulose) e continuará sendo. O fator competitivo, que é a produtividade das florestas, não tem nenhum outro lugar que vai conseguir com as tecnologias atuais — avalia o dirigente.
A produção de florestas plantadas está presente em 492 dos 497 municípios gaúchos. Da área total,592 mil hectares são de eucalipto, 289 mil de pinus e 50 mil de acácia-negra (variedade que é 100% produzida no RS). As cinco maiores áreas estão nos municípios de Encruzilhada do Sul, São Francisco de Paula, Piratini, Cambará do Sul e Cachoeira do Sul (veja abaixo). Logística, geografia e clima são fatores que explicam o posicionamento da atividade no mapa, observa presidente da Ageflor:
— Um grande motivo é o porto de Rio Grande. As florestas mais perto do porto facilitam, pelo custo da logística. A topografia é outra questão, são áreas menos propícias às lavouras. E tem o clima: a produtividade que conseguimos aqui com eucaliptos em sete anos, leva 70 no hemisfério norte.
Entre os desafios que o setor aponta no Estado estão o avanço da atualização do Zoneamento Agrícola de Silvicultura (Zas), a representação no Consema e a divulgação dos produtos do setor para a sociedade.
— O setor tem oportunidades no mercado de carbono, mas para aproveitá-las, temos de aumentar a área plantada — conclui Alves.