Desde o último final de semana, o mundo dos vinhos já conhece o melhor sommelier do Brasil. Aos 38 anos, o campeão desta edição, promovida pela Associação Brasileira de Sommelier (ABS Brasil) com a regional do Rio Grande do Sul (ABS-RS), é Wallace Gonçalves Neves.
Os esforços para a conquista começaram muito antes da prova que teve o Vale do Vinhedos, em Bento Gonçalves, como palco. Natural do Rio de Janeiro, Neves atuou em renomados restaurantes e hotéis da cidade. Tem formação na área de hotelaria, gastronomia, liderança, além de cursos em restaurantes e vinícolas de países da América Latina e da Europa. Atualmente, mora em Uberlândia (MG), onde assina e gerencia a carta de bebidas como "wine manager" em um bar da cidade e presta consultoria no segmento de vinhos para empresas da região.
Mesmo com o título da temporada, Neves já avisa que não vai parar por aí. O sommelier revelou à coluna que vai participar do concurso Panamericano de profissionais, no México:
— Essa conquista marca um recomeço em minha carreira.
Conheça um pouco da sua trajetória na entrevista a seguir:
Como surgiu a sua relação com o vinho?
Nunca fui um apreciador de bebidas. Eu me formei em hotelaria e, na escola, quando o professor falou sobre a hierarquia do setor de bebidas e alimentos de um hotel, ele mencionou a função do sommelier. Ali me despertou a curiosidade de compreender mais a profissão e, quem sabe, me formar e me tornar um sommelier.
Como você se preparou para o concurso?
Essa prova foi muito diferente em relação aos anos anteriores. E isso trouxe um grau de dificuldade muito maior. Antes, o concurso ocorria no Sudeste, então, ficava muito centrado em Rio e São Paulo. Neste ano, a ABS deu oportunidade para que todas as suas regionais pudessem competir. A prova teórica foi aplicada simultaneamente para que todos pudessem participar e ter a chance de se classificar. A minha preparação foi estudar muito o vinho na atualidade e regiões como Austrália, Nova Zelândia, Oriente Médio e Ásia. Em casa, pedi à minha esposa para me auxiliar. Ela servia um vinho que eu não via o rótulo e eu tinha que adivinhar às cegas. Teoria, serviço e degustação. Essa foi a sequência da minha preparação.
E como é a prova?
Os candidatos precisam reconhecer bebidas às cegas, encontrar erros em uma carta e apresentarem o serviço formal do vinho. Foi a primeira vez que tive oportunidade de ser finalista e foi a quarta vez que tentei me classificar para a final. É um concurso muito difícil. Você compete com profissionais de altíssimo nível e rendimento. Fora que o mundo do vinho hoje está muito mais complexo, mais amplo. Se eu comparar com o primeiro concurso que fiz, em 2009, naquela época a nossa abordagem era Chile, Argentina, Espanha, Portugal, Itália e França. Hoje, entram vinhos da Eslovênia, da Croácia, da Hungria.
O Brasil produz espumantes maravilhosos que não devem nada para nenhum país no globo terrestre
WALLACE GONÇALVES NEVES
Sommelier
O que faz um sommelier?
O sommelier é responsável pelo serviço de bebidas de um estabelecimento comercial, principalmente restaurantes. Mas hoje temos sommeliers em grandes redes de supermercados, em importadoras, em empresas de e-commerce. A profissão se ramificou. E o foco principal é o vinho. Mas, na operação de um restaurante em um hotel, o sommelier é responsável pelo café, chá, coquetéis, seleção de cerveja, por gerenciar o estoque da adega, além de elaborar uma carta de vinho correspondente com a localização do restaurante, tendo uma semelhança com a gastronomia do estabelecimento. Se o restaurante é italiano, vai ter vinhos mais italianos, por exemplo. Também é responsável pelo serviço de vinho à mesa, por abrir um bom espumante, e pelo treinamento da equipe.
Qual é a relevância de ganhar esse prêmio?
É uma grande batalha que a ABS trava em promover a profissão e trazer notoriedade para o profissional de vinhos no Brasil. Se eu não me engano, somente em oito países a profissão de sommelier é regulamentada. E o Brasil é um deles. É um mérito para a nossa associação. O concurso traz notoriedade e reconhecimento profissional para o sommelier. Depois disso, existe o reconhecimento de empresas. Então, o sommelier passa a ser convidado para palestras, degustações, cursos, pode se tornar diretor de marca de vinícola. São possibilidades quase infinitas. Além de se classificar para competições internacionais.
E o que planeja fazer agora?
Vou participar do Concurso Panamericano de Sommeliers em 2023, no México. Então, essa vai ser a minha sequência: continuar com os estudos, participar do Curso Sommelier Master, promovido pela ABS-RS, fazer uma agenda de degustação de vinho às cegas, viajar para outros países, conhecer restaurantes e chegar com bastante antecedência para o Panamericano. Meu objetivo é ser o primeiro sommelier brasileiro a ser campeão.
Como melhor sommelier do país, que tipo de vinho sugere para as festas de final de ano?
Recomendo um estilo de vinho que é muito versátil. Considerando que a gastronomia natalina e de Réveillon são muito voltadas para o agridoce, como um tender defumado com especiarias de cravo e canela, arroz com bastante uva passa, rabanada... recomendo espumantes. Escolha um da sua preferência, e principalmente brasileiro. Porque o Brasil produz espumantes maravilhosos que não devem nada para nenhum país no globo terrestre.
*Colaborou Carolina Pastl