Engenheira ambiental e urbana de formação, a paulista Luiza Bruscato conjuga várias habilidades na atividade profissional. Diretora-executiva do Grupo de Trabalho de Pecuária Sustentável (GTPS), trabalha a temática com representantes de diferentes setores e entende que a sustentabilidade é “uma jornada a ser percorrida”. Ela conta sobre a trajetória, as vantagens e os desafios do Brasil. Confira.
Sempre teve ligação com o agro ou foi algo que surgiu na caminhada profissional?
Me formei engenheira ambiental e urbana na Universidade Federal do ABC, em 2014, mas desde 2007, trabalhava no desenvolvimento de projetos. Primeiro, no setor econômico, depois no de urbanismo, na prefeitura de Santo André. Depois, fui para a Basf, na Fundação Espaço Eco, que promove e trabalha ações de sustentabilidade. Atendia os principais clientes de agro. Foi ali que o setor me tocou, onde comecei a trabalhar com as principais cooperativas agrícolas. Rodei bastante o Brasil, já focada em sensibilizar a comunidade do entorno com relação ao ambiente. Fazia a articulação entre as secretarias de educação, de meio ambiente e a cooperativa. Capacitava técnicos que iam cuidar localmente do projeto.
E como surgiu a relação com a pecuária especificamente?
Depois da Basf, fui trabalhar com o Mauricio Nogueira (sócio-diretor da Athenagro). Coordenei o rally da pecuária. Foi ali que me aprofundei nas boas práticas da atividade, comecei a entender mais do setor, de produção de carne. Viajei três anos Brasil afora, visitando fazendas e conhecendo a realidade de produção da pecuária bovina. Aí, já apaixonada pelo agro, conhecendo cooperativas e pecuária, decidi voltar a trabalhar mais com sustentabilidade, minha área inicial. Daí surgiu a oportunidade de gerir a mesa brasileira da pecuária sustentável. Em 2019, entrei para o GTPS.
Que desafios encontrou na nova função?
Organizar os diferentes elos, as diferentes necessidades que esses setores têm. E conseguir conciliar todas essas necessidades, e as dificuldades para poder promover a pecuária sustentável. Quando cheguei, tinha o desafio de gestão, governança mesmo, de organizar todas as categorias e esse debate.
Como definiria o que é uma pecuária sustentável?
A meu ver, a sustentabilidade é uma jornada a ser percorrida. Não há um fim. Entendo que sempre surge uma tecnologia nova, um novo problema, novo desafio. Uso o exemplo da lâmpada. Substituímos a incandescente pela de LED. Mais eficiente, de maior durabilidade, mas que tem um desafio de resíduos. Na pecuária, o entendimento é de que a brasileira já é uma das mais sustentáveis, porque é pasto, com o boi em seu habitat natural, escolhendo o alimento, um dos preceitos de saúde animal. Temos avançado em legislação, como o Código Florestal, de prever 20% da reserva legal definida para cada bioma. Hoje, 33% das florestas que o Brasil detém estão em propriedade privada, isso não há em nenhum outro país. Claro, precisamos avançar em outros aspectos: pastagens degradadas, dificuldades no acesso a tecnologias, produtores que não usam essas tecnologias ou estão com modelos atrasados de governança. São mais de 2,5 milhões de pecuaristas que precisam acessar essa tecnologia, precisam de infraestrutura, rodovias, cabeamento, internet.