A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.

O carinho com os animais é de encher os olhos do cabanheiro Silvonei Rodrigues dos Passos. Ele trabalha há 16 anos na Fazenda Santo Izidro, de Alegrete, na Fronteira Oeste, onde há criação de vacas leiteiras das raças jersey e holandesa. Entre suas tarefas de rotina está a tosquia, trabalho que fazia com esmero quando a coluna flagrou o profissional durante a Expoleite Fenasul, em Esteio, no início de maio.
O cabanheiro comenta que o trabalho tem rotina puxada, mas que a gratificação quando os animais cuidados com tanto carinho são premiados compensa. Ao lado da vaca Hebe, estrela das feiras agropecuárias por onde passa Rio Grande do Sul afora, Silvonei conta que coleciona alguns títulos e fala do que ainda planeja realizar.
– Enquanto tiver saúde, quero seguir fazendo isso. Acho que mais uns 20 anos eu aguento! – diverte-se.
A seguir, conheça mais sobre o trabalho e a rotina do profissional:
O que faz um cabanheiro?
O cabanheiro, hoje, tem que fazer tudo. Primeiramente, tem que ter amor aos animais e gostar da lida. E aí é uma rotina. Tratar, dar banho, fazer nutrição, reprodução. Tudo isso faz parte do trabalho do cabanheiro. A rotina começa às 5h e não tem hora para terminar. Vaca é um bicho imprevisível. Hoje ela está bem, amanhã pode estar ruim, e temos que ficar na volta.
Como entrou para a lida?
O meu pai sempre lidou com gado e eu nasci bem dizer debaixo de uma vaca. E assim peguei gosto por isso e segui a vida de cabanheiro. Com seis anos fiz minha primeira Expointer acompanhando o meu pai e com 15 anos assumi uma cabanha sozinho, em Palmeira das Missões. Hoje tenho dois filhos que trabalham com vaca também. Sempre andando junto, pegaram o ritmo comigo.
Uma das tarefas é a tosquia. Como funciona esse trabalho?
A tosquia é o detalhe final de um animal de exposição. Um animal bem tosquiado pode chamar atenção do jurado e definir um julgamento em pista. É um trabalho bem complicado. Trabalhamos sempre com duas tosquias, uma quando se prende os animais para colocar na cabanha e outra que é o acabamento final. Num intervalo de 15 dias já é preciso tosquiar de novo.
Requer algum cuidado especial?
A máquina em si não machuca. Mas o detalhe para fazer a tosquia é que o animal precisa estar bem limpo. Quanto mais banho der, melhor. Isso retira a gordura do pelo e fica uma tosquia mais bonita, sem marcas ou riscos, mais detalhada.
Tem “corte especial” para os julgamentos?
Tem. Julgamento de gado de leite hoje em dia é mesma coisa que um desfile de Miss Brasil. A vaca vai passar no camarim e vai ter que fazer a maquiagem dela (risos). Desde unha a cabelo, sem falar do sistema mamário, que também é avaliado. Tem produtos importados que passamos, o próprio laquê que vai no pelo é importado, tem uma série de detalhes.
O que mais gosta nesse trabalho?
É puxado, mas o gratificante é quando tu traz os animais e eles vão bem e ganham a premiação. Mas só de estar aqui e participar já é uma alegria. Coleciono alguns prêmios e esse ano já ganhamos dois títulos de Suprema. Essa vaca aqui, a Hebe (na foto acima), ganhou exposição em Pinhalzinho (SC) e em Xanxerê (SC), foi a grande campeã da raça e a suprema das raças. Está se armando para ser a melhor vaca do Brasil. Temos boas expectativas nela e vamos seguir trabalhando.
Algum título que te orgulhe mais nessa trajetória de cabanheiro?
Na Expointer do ano passado, fizemos a dobradinha de prêmios com a grande campeã da jersey e a grande campeã da holandesa. Isso, que eu me lembre, cabanha nenhuma fez aqui em Esteio. É bem gratificante. Claro que para tudo isso precisa ter condição lá atrás de manejo, desde a propriedade dar capacidade para fazer as coisas, mas não é fácil, é bem disputado.
Dentre os animais que trabalha, tem alguma vaca que goste mais de lidar?
Sim, tenho uma holandesa, a Morena (campeã da Expointer 2021), que é a mimosa da Fazenda. Só não levo no colo porque é muito grande (risos). É uma vaca muito fácil de trabalhar, dócil. E a própria Hebe, que é uma miss. Ela sabe o dia que precisa estar bem. Coloco ela no tosquiador, para arrumar, e é como se dissesse “essa é a minha hora”. O jersey é o animal mais dócil de trabalhar, diferentemente do holandês, que é mais nervosa.
Que característica um profissional dessa área precisa ter?
Para qualquer profissão, a primeira coisa é gostar. Se não gosta, não vai dar ponta e não vai evoluir. Tem que gostar e procurar se aperfeiçoar, que o mundo todo dia tem coisas novas. Sempre procuramos ler alguma coisa, a própria internet nos ensina bastante, então estamos sempre buscando trabalhar em cima da melhora, no ponto alto da perfeição. Enquanto tiver saúde quero seguir fazendo isso. É o que eu sei fazer e acho que mais uns 20 anos eu aguento!